Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes
darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso
e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o
meu jugo é suave e o meu fardo é leve. Mateus 11: 28-30
Cansaço e sobrecarrega na alma –
O que significa uma alma cansada? Se pensarmos em alma como o centro das
emoções, a sobrecarga pode ficar por conta dos muitos e volumosos investimentos
que o mundo à volta faz, através de seus incontáveis meios, requerendo,
exigindo, determinando, sugestionando e pretendendo seduzir nossos desejos,
afetos e emoções. A alma muito exigida nas lides da vida, é o centro emocional
levado ao extremo de sua capacidade para vivenciar numa mudança vertiginosa o
contraste de suas emoções: alegria para o abatimento; prazer para repulsa;
afeição para ódio. Também o malabarismo a que somos levados para balancear
nosso emocional exigentemente contido diante dos conflitos e desaforos e humilhações
que ocorrem maioria das vezes nas interrelações, produz, infalivelmente,
sobrecarga.
Uma mente
depressiva é uma alma sobrecarregada.
Uma mente culpada,
é uma alma sobrecarregada.
Uma mente sem
opções, atônita, está sobrecarregada.
Sobrecarga fala disso:
excesso de carga.
E o que a
sobrecarga produz? Cansaço. Astenia.
O cansaço tem a
sintomática da perda de forças, que envolve desde os afetos, o corpo. A alma
cansada é vista na incapacidade de conduzir afetos correspondentes a fatos.
Distorção de sentimentos, desânimo, ou inação.
A vontade minada, e perigosamente tendente a deixar-se levar por opções
imediatas, impensadas e sugeridas por terceiros sem responsabilidade.
A observação nos leva a perceber
que nem sempre uma alma sobrecarregada sintomatiza de imediato os efeitos do
cansaço, mas isso vai crescendo lentamente, às vezes dissimulado por ligeiros
momentos de alívio que maquiam a verdade, escondendo o buraco que cresce no
interior, em direção à erosão total.
Então surge uma saída: opção de descanso.
O que vem a ser o descanso?
Primeiramente é importante
considerar que o descanso é oferecido por alguém: Jesus. Não se trata de uma
situação ou solução via realização de um evento, mas um ponto de encontro, um
lugar, que na verdade é uma Pessoa, Alguém. Daí Ele dizer: Venham a mim. O
descanso é oferecido nEle, na Sua pessoa, num entrar em contato com Ele. Ele
afirma: “Eu lhes darei descanso”. Logo, trata-se de algo que Ele fará, e não
que o cansado fará. Ao cansado é oferecido um convite, e tudo que lhe basta é
ir ao encontro de Quem o faz.
Em seguida entendemos que o ato
de chegar-se a Ele implica em usar o que Ele oferece, e isto é chamado de
“ tomar seu jugo e aprender dEle”. Aqui entramos no terreno do compromisso. A
busca pelo descanso implica em se comprometer com quem o oferece. A linguagem
“tomar o jugo”, que redunda em aprender, significa engajar-se no mesmo estilo
de atividade. Ou seja, entrar em parceria, e aí está o significado real de
descanso a que Ele alude. Algo semelhante ao boi que se atrela ao outro,
colocando-o sob a mesma canga para puxar o arado. Dirige a parelha o boi mais experiente. É o
que Jesus oferece aqui, e isto se resume na idéia de confiar-se a Ele, deixá-Lo
tomar as rédeas da existência. Ele sugere, ou dá a idéia de uma troca de jugo e
de fardo, como a dizer: “Não estou convidando você a um SPA, onde vai ficar
deitado numa rede esperando tudo ser feito. Não. O convite é para viver minha
visão, meu plano, minha direção para a vida, pois a que o orienta, o sobrecarrega,
exige sem nada dar em troca, mas a minha, é sustentável, garantida, assistida e
seguramente vitoriosa, pois termino o que começo bem sucedidamente”. Sim, Ele é
o princípio e o fim. Logo, podemos entender que tomar o fardo de Jesus envolve
um compromisso com uma mudança mental, mudança de sistema vivencial, saindo da
esfera ou do limiar de conduzir-se pelas influências do meio, para a influência
de Suas idéias, Seus princípios, Sua forma de ser. Aquele sobrecarrega, este,
produz descanso. Daí a idéia se completar quando Ele diz que é manso e humilde de coração. Ele
prova o resultado do descanso.
Qualquer de nós sabe que uma
mente sobrecarregada expressa-se em irritabilidade e prepotência, altivez, para
dizer o mínimo. Uma mente descansada está inclinada à mansidão e simplicidade.
Então as idéias se aclaram, as decisões são seguras, a capacidade de raciocinar
está livre do embotamento emocional. E
na simplicidade está a possibilidade de uma longa e bem sucedida existência do
ser humano. A irritabilidade contumaz
conduz ao estresse, e sabemos que ele nada produz de bom, além de doença e até
mesmo a morte precoce ou enfermidades deterioradoras.
Entendemos que o que Cristo
afirma é que no descanso há mansidão e humildade, características de alma
segura. A palavra que bem sintetiza isto
é paz. Quando deixamo-nos ir a Jesus, encontramos descanso, gozamos paz. E o movimento é exatamente este: ir a Ele.
Nas lides diárias, estamos
ocupados demais conosco mesmos e com nossas coisas. Exigidos e absorvidos pelos
que nos solicitam, família, amigos ou companheiros de trabalho. Isto é uma
constante. O convite de Jesus pressupõe um escape, a busca por um escape, uma
saída à parte, em direção a Ele, que não pode ocorrer como uma experiência
isolada, única, suficiente para a existência inteira, mas que deve ser renovada
dia a dia, porque estar nEle é um investimento espiritual que deve ser buscado
diariamente, para que, qualquer que seja o dia que vivemos, sempre nos seja um
shabbat, um sábado de descanso espiritual.
O convite estará sempre aberto,
porque como Ele diz Em Sua Palavra: Vocês me procurarão e me acharão quando me
procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês. –
Jeremias 29:13 e 14. Qualquer de nós
pode fazer isto agora mesmo. Ele está
sempre convidando: “Venham à parte, e descansem um pouco”.
Pr.
Cleber Alho