segunda-feira, 25 de junho de 2012

O MISTÉRIO ORAÇÃO

Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará. E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem. Vocês orem assim:
            Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amem. Mateus 6: 6-11.

A oração é um mistério. Por isso é mística. Mas não deve ser mítica. Ela se torna mítica quando vira reza, um mantra escrito, onde as palavras adquirem poder para o recitador, ou mesmo o ambiente do seu registro, como a folha em que o texto está.
Talvez por conta do seu misterioso caráter a oração seja vivida ou praticada com tantas distorções e tão pobremente.
Ela não é patrimônio do cristianismo e nem foi inventada pelo judaísmo. Todos os povos da antiguidade praticavam a oração a seus deuses e maioria das vezes através de rituais sacrificiais.
O Cristianismo bíblico foi quem posicionou a oração com objetividade e intensificou sua transcendência, porque o judaísmo, através de seus rituais e sacrifícios, dava visibilidade à oração ao mesmo tempo em que punha um alto senso de distanciamento entre quem orava e Deus, mas o Cristianismo isolou a oração de tudo isso, elevando-a e colocando-a num terreno onde somente os olhos da fé podem enxergar, criando aproximação entre o adorador e seu Deus.
Mas prevalece o seu caráter misterioso.
Quero destacar alguns pontos que sustentam isso:
1-       Jesus, na oração modelo, a circunscreve à Pessoa de Deus, na qualidade de Pai: Pai nosso que estás nos céus...
- Ficam de fora outros agentes, como anjos, santos, etc, e outras categoriais relacionais: mãe, irmão, espíritos, etc. É o suplicante como filho diante do seu Deus, como Pai, sem intermediários.
2- Jesus a coloca sob condicionamento e dependência: Tudo o que pedirem ao Pai em Meu Nome, Ele atenderá... Jo. 16: 23 e 15:16.
3- E o mistério começa:
- O que pedir?
O pão nosso, de hoje, para hoje (provisão);
      O perdão ( canais abertos, paz );
      O livramento (proteção) do Mal.
- Mas, sob critérios:
      Mt. 6:6  - Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará (intimismo pessoal);
Mt. 6:7 -  E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos (sem repetições);
Mt. 6:8 -  Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem (consciente de que o Pai que ouve sabe da razão da petição, antes que ela seja verbalizada).
Ora, se associamos esta informação a outras paralelas como:
- Isaías 65:24 – Antes de clamarem, eu responderei; ainda não estarão falando, e eu os ouvirei.
- Romanos 8:26 – Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
- Efésios 3:20  - Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos...
Resta uma lógica: Por que orar, ou para quê orar, diante de tais afirmações?
No entanto, somos instados a orar.
Primeiro por Jesus: Vocês orarão assim... Depois, temos o apóstolo Paulo nos exortando em I Ts. 5:17 a orar sem cessar e ainda há todo um contexto de narrativa bíblica de homens e mulheres com intensa vida de oração, fora os muitos relatos de atos divinos ocorrendo em resposta direta à oração do crente, ora operando fenômenos, ora alterando decisões por Ele previamente anunciadas como nas histórias de Josué e do rei Ezequias. Ainda temos, dentre tantas, a exortação de Tiago a orarmos uns pelos outros.
Não podemos deixar de considerar o fato de que a Bíblia registra várias intervenções divinas na história pessoal de alguns personagens, onde situações ocorreram sem exercício de petição alguma, como a reversão da esterilidade da mulher de Manoá, a mãe de Sansão. Também incontáveis vezes Deus interveio a favor de alguém em resposta à intercessão de outrem: A Igreja a favor de  Pedro; A Sulamita, por Eliseu; a viúva de Sarepta, por Elias, etc. O próprio Senhor Jesus orava ao Pai para que algumas coisas ocorressem, ora de forma explícita, como na ressurreição de Lázaro, ou na interferência a favor de Pedro num momento de tentação, ou dando graças, como na última ceia; ora de forma implícita, apenas elevando os olhos aos céus... ou no Getsêmani, com perseverança!
E então ficamos entre duas frentes que parecem contraditórias: Deus ouvindo orações que Ele bem pode dispensar, e Deus exigindo orações que Ele pode tanto atender, quanto não atender.
E eis aí o mistério!
O que estaria por detrás de tudo isso para que a oração possa ser uma realidade experiencial na vida cristã, sem resvalarmos para os tropeços, os laços de uma racionalidade desdenhosa?
Bem, entendo que há algum ensinamento que, se não esclarece o mistério, torna-o inteligível para a fé: Somos informados em Romanos 8:26,27 e 34 e em Hebreus 7:25 que nossas orações são como que filtradas pelo que as Escrituras chamam de intercessão pessoal do Espírito Santo e do próprio Senhor Jesus.
À luz disso, entendemos que o tudo o que pedirem ao Pai em Meu Nome... deixa de ser uma fórmula, para, associada à verdade de que o Espírito Santo habita no interior do crente em Jesus, passa a ser um estado, uma essência. Também entendemos porque nem tudo o que dizemos em oração é atendido e isso está atrelado ao Seja feita a Tua vontade na terra assim como é feita nos Céus...
Mas ainda fica a questão: Por que o crente deve orar sem cessar?
Por sem cessar é bom que entendamos algo que extrapola tempo, lugar e forma, como Jesus ensinou em João 4, sobre a adoração. E então, à luz de João 4: 23 e 24, podemos entender que o que Deus deseja e pretende através de nosso exercício espiritual de oração, é nossa presença, aproximação pessoal como adoradores, e isso tanto explica Mateus 6:6, quanto Hebreus 10: 19-22, que diz: Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada, e tendo os nossos corpos lavados com água pura.
Entendo, por fim, que o mistério da oração se resume em nossa confissão de dependência divina, como fica tão patente na experiência do Senhor em oração no Getsêmani, conforme Marcos 14:36: ...Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres.
Também é nosso exercício de aproximação adoradora, como ouvimos no ensino de Jesus à Samaritana.
E então penso naqueles que pouco oram e se enfadam rápido dos momentos de oração, porque para a grande e esmagadora maioria a oração  é um exercício petitório, que por maior que seja sua ambição, se resume nisso, e fica pobre e vazia. Por mais que se tenha o que pedir, nem os mendigos de rua o fazem sem cessar. Mas ela se torna ampla e sem cessar se for vista como veículo de aproximação entre partes, canal aberto de comunhão, vivência de filhos com seu Pai, como um respirar.

                        Pr. Cleber Alho