quinta-feira, 11 de junho de 2015

ARDE A SARÇA NO AREAL


Moisés pastoreava o rebanho de seu sogro Jetro, que era sacerdote de Midiã. Um dia levou o rebanho para o outro lado do deserto e chegou a Horebe, o monte de Deus. Ali o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio de uma sarça. Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, não era consumida pelo fogo. 'Que impressionante!' pensou. 'Por que a sarça não se queima? Vou ver isso de perto.'  O Senhor viu que ele se aproximava para observar. E então, do meio da sarça Deus o chamou: 'Moisés, Moisés!' 'Eis-me aqui', respondeu ele. Então disse Deus: 'Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar  em que você está é terra santa'. Disse ainda: 'Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó'. Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus. Disse o Senhor: '...Vá, pois, agora; eu o envio ao faraó para tirar do Egito o meu povo, os israelitas".
Êxodo 3:1-10.


Significativa a visão!
Era uma sarça a arder. Um arbusto do deserto, quase pouco mais que  uma moita de espinhos, que incendiado, não se consumiu. Mas era também um anjo, ou pelo menos sua voz. E o arbusto se tornou o trono do anjo.

O que essa experiência demarcou para Moisés?
                                      - Seu encontro pessoal com Deus;
              -  Sua investidura para o serviço ativo no Reino de Deus;     
 -  Sua entrada numa vida de experiências profundas, novas e raras com         Deus.

Após quarenta anos de vivência rotineira (enfadonha?) no deserto, nascia uma nova e dinâmica realidade espiritual para ele, por conta desse Encontro junto à sarça.

Quantas vezes ansiamos nós por encontrar uma experiência inusitada que mude o rumo rotineiro de nossa vida espiritual? Mesmo como a sarça de Moises! Mas, que tipo de sarça seria? Teria de ser algo bem  próximo àquela sarça de Moises, que antes não passava de um arbusto nada promitente. Porque na vida evangélica em que estamos inseridos, não faltam aqueles que vivem dizendo ter visto sarça ardente. São os amigos da fantasia, viciados nos fenômenos exagerados e mirabolantes que transformam cultos em estardalhaços, às vezes beirando a espetáculo circense. Tais "fogos" provam-se depressa cinzas de fogo morto, depois.

Quem experimenta um Encontro como o de Moisés na sarça, não vibra um momento, para apagar-se ao final do culto. A sarça da Presençé uma experiência que marca para a vida inteira.

Pode ter ambiência e proporções diferenciadas para cada um, mas será como aquele encontro na sarça quando manifestar os mesmos estímulos provocados em Moisés: a visão que atrai e admira, ofuscando tudo mais; a voz que fala e fala bem pessoal e intimamente, convincentemente porque prova-se particularizada; a mensagem que estabelece os limites entre Quem fala e quem ouve; a atração, o desejo irresistível de proximidade; e a resposta rendida, de alma cativada ao sonho de Quem convida.

O que poderia propiciar esse encontro e sua visão decorrente?
Nosso texto mostra que Moisés, " veio ao monte de Deus..." (V.1) Era o Horebe. O que ele representa para nós, crentes em Jesus, hoje? Bem, sem dúvida, um lugar de encontro com a vontade de Deus. 
Horebe figurou também mais tarde como lugar de particular revelação de Deus ao profeta Elias, que pensou achá-Lo no turbilhão de um vendaval, incêndio ou terremoto, para descobrir que Sua voz falava numa brisa leve, despretenciosa. Penso em cultos dominicais, informais, não promitentes, desprovidos de sons pomposos, onde a mensagem soa como uma brisa ligeira, cujo efeito se agiganta até a eternidade.
Hoje, o monte de nosso encontro com Deus nãé o Horebe. É o Calvário, e tanto quanto Moisés teve de ir ao Horebe após quarenta anos de deserto, e Elias teve de retornar ao Horebe depois do deserto de seu ministério e fé, nós devemos voltar ao Calvário quantas vezes for necessário renovar nossa visão do que se passa ali.

Mas o fato  de que no Horebe (nosso Calvário) Moisés teve de descalçar-se para se aproximar, indo da vontade impulsiva ou empolgada à consciência de posições indevidas, nos ensina que também precisamos nos dar conta da necessidade de despir-nos diante de Deus, despojar-nos, como quem tira o calçado e assim se vulnerabiliza. 
E aqui, significações do descalçar-se são inevitáveis:     
Descer de si mesmo;
Descer diante de si mesmo;
Descer diante de Deus;
Assumir lugar de servo (só os senhores viviam calçados naquela cultura em sua época);
Desprender-se, porque o calçado fala de autopreservação.

O Deus do Encontro sempre insistirá nessa entrega de confiança absoluta: " Sai da tua parentela e da casa de teu pai..."; "aquieta-te, e sabe que eu sou Deus"; " Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle..." E por aí vai.

Depois é ir além do assistir o espetáculo. É ouvir a voz e atentar ao seu conteúdo. Moisés ouviu a Voz e descobriu que o propósito do Encontro era comprometê-lo e comissioná-lo com a necessidade do coração divino. De igual forma, experiências paralelas nos mostram que outros homens de Deus tiveram um encontro que resultou em comprometimento: Isaías viu a glória, ouviu a Voz e se rendeu ao apelo divino; Elias depois de ouvir a Voz que lhe falou na brisa, reassumiu seu compromisso com a vontade divina, e outro tanto Saulo de Tarso.

Por fim, ocorre-me que também foi muito importante Moisés estar no deserto. O deserto aponta para um desamparo pessoal, um abandono ou um retiro de exclusividade completa para um encontro do qual Deus não fica ausente. Esta é, outro tanto, a história de Jacó no vau do Jaboque.

Se estamos a sós nos desertos circunstanciais, é bastante transformá-los nas oportunidades para estar com Aquele que nos assiste em segredo, conforme ensinou o Senhor Jesus.

Pr. Cleber Alho.


quarta-feira, 10 de junho de 2015

QUANDO CONTEMPLO OS TEUS CÉUS - Continuação

Enquanto eu escrevia a reflexão anterior, um irmão amado, que a leu, lembrou-me um texto assinado por C.S.Lewis (Cristianismo Puro e Simples) no qual o autor fala sobre a esperança cristã acerca do céu, cujo extrato coloco aqui:

A esperança é uma das virtudes teológicas. Isso quer dizer que (ao contrário do que o homem moderno pensa) o anseio contínuo pelo mundo eterno não é uma forma de escapismo ou de auto-ilusão, mas uma das coisas que se espera do cristão. Não significa que se deve deixar o mundo presente tal como está. Se você estudar a história, verá que os cristãos que mais trabalharam por este mundo eram exatamente os que mais pensavam no outro mundo. Os apóstolos, que desencadearam a conversão do Império Romano, os grandes homens que erigiram a Idade Média, os protestantes ingleses que aboliram o tráfico de escravos - todos deixaram sua marca sobre a terra precisamente porque suas mentes estavam ocupadas com o Paraíso. Foi quando os cristãos deixaram de pensar no outro mundo que se tornaram tão incompetentes neste aqui. Se você aspirar ao Céu, ganhará a Terra,  ' de lambuja'; se aspirar à Terra, perderá ambos."
                                      (...)
Não devemos nos preocupar com os irônicos que tentam ridicularizar a esperança cristã do 'Paraíso' dizendo que ' não querem passar a eternidade tocando harpa'. A resposta que devemos dar a essas pessoas é que, se elas não entendem os livros que são escritos para adultos, não devem palpitar sobre eles. Todas as imagens das Escrituras (as harpas, as coroas, o ouro, etc) são, obviamente, uma tentativa simbólica de expressar o inexprimível. Os instrumentos musicais são mencionados porque, para muita gente (não todos), a música é o objeto conhecido nesta vida que mais fortemente sugere o êxtase e a infinitude. A coroa é mencionada para nos dar a entender que todo aquele que estiver reunido com Deus na eternidade tem parte no Seu esplendor, no Seu poder e na Sua alegria. O ouro é citado para nos dar a idéia da eternidade do Paraíso (o ouro não enferruja) e também da sua preciosidade. As pessoas que entendem esses símbolos literalmente poderiam também pensar que, quando Cristo nos exortou a ser como pombas, quis dizer que deveríamos botar ovos" , e assim o autor encerra seu tema.

A Revelação bíblica de Deus sobre a eternidade nos apresenta o Eden. É bom lembrar que o homem foi feito para habitar no Éden, porque o Éden foi criado para o homem. Mas tendo tornado a si e a toda raça humana indigna do Éden, foi dele expulso e este teve sua porta fechada. Vem Jesus, na plenitude dos tempos então, nos anunciando ser Ele o caminho e a porta que nos levam de volta ao Éden perdido da comunhão com o Deus Eterno.

Dentro da questão anteriormente feita: Por que devemos contemplar os céus?, o autor do salmo proposto na primeira parte desta reflexão, o salmo 8, nos aponta uma outra razão de substancial importância para o ser humano. É quando ele, continuando seu pensamento no verso 3: Quando contemplo Teus céus... pergunta a Deus: Que é o homem para que com ele te importes?

Ensina-nos então, em primeira mão, que uma visão macrocósmica da vida, ou transcendental, provoca um olhar, um refletir sobre si mesmo, a autovisão que nunca deveria faltar a ninguém. A Bíblia relata a experiência do profeta Isaías a quem sobrevindo em êxtase uma visão de uma cena celestial em que contemplou a glória de Deus e ouviu sons angelicais, caiu em si, e viu-se sujo, impuro, diante de tamanho esplendor e santidade (Isaías 6). O salmista viveu algo próximo a isso. E sua experiência serve para nos levar à conclusão de que uma visão elevada até os céus de Deus, nos permite perceber nossa pequenês, finitude, e ao mesmo tempo perceber que o Deus que fez um céu tão magnífico e eterno, não teria por que ocupar-Se com a insignificância humana. No entanto, é com os homens, criados à Sua imagem e semelhança que Se importa e Se ocupa. Sim, Jesus deixou bem claro que o alvo de Sua obra vicária foi nos propiciar participação em Sua glória eterna. De fato, Deus criou o homem para habitar no céu.

Depois, depreendemos também que o salmista nos comunica que o Deus que tudo fez com excelência, não reputa o homem por insignificante.  Volta Sua atenção para ele. Longe de desprezá-lo, o Evangelho nos revela que Deus valoriza-o a tal ponto que lhe deu Seu Filho Unigênito com o intuito único de comprar para Si Mesmo esse ser que dEle se perdeu tornando-se em seu próprio dono e senhor. E valoriza ao ponto de lhe propor a volta à Sua Eterna comunhão.

Mas, voltando ao ponto anterior, se existe uma necessidade premente de contemplarmos os céus para alçarmos alturas mais nobres em nossos sonhos e propósitos existenciais, também é importante dar-nos conta de que contemplar os céus nos faz cair na realidade de que nossa finitude e humanidade não são nossas medidas. Sempre o infinito nos apontará a eternidade de Deus como a eternidade aspirada, ainda que pareça ao ser humano o efeito ilusório e psíquico de ser eterno em si mesmo até que se depara com a morte inevitável. Sua aspiração, no entanto, é eco de uma verdade espiritual: não fomos feitos para a morte. Contemplar a infinitude divina tem de despertar em pessoas sensatas, a profunda consciência de sua dependência nAquele que fez tudo absolutamente imensurável.

As dimensões siderais, presumidas e avaliadas, deveriam nos despertar questões tais como: por que e para quê  tudo isso?  Quem pode desfrutar tamanha grandeza?

É tal o anseio pelo infinito no homem, que mobiliza as grandes potências e os homens da ciência a vasculharem por sondas espaciais e até aspirando lá chegar, o infinito sideral. Essa sede denunciada em tais megas projetos, muito mais prodigiosos que os túmulos faraônicos ultramilenares, vai atravessar e crescer desmedidamente no passar das décadas enquanto o homem povoar a terra. Ele busca, sem o saber, o Éden perdido.

Há uma espada que circunda o Éden de Deus. É sua guardiã perene. Abusando dos símbolos, penso que o homem entra de volta ao Éden quando ferido por essa espada, a Palavra de Deus que encarnou como Jesus, o Cristo, a via única de acesso às regiões celestiais.


Pr. Cleber Alho.       

terça-feira, 9 de junho de 2015

QUANDO OLHO OS TEUS CÉUS


Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste...- Salmo 8:3.

Devemos olhar os céus? Algumas vezes olhamos o infinito azul a que chamamos céu; e há alguns que páram para contemplá-lo a olho nú. De alguma maneira, quando menos embrutecidos, nalgum dia levantamos nossos olhos para o céu e o contemplamos. À noite, em regiões interioranas, menos poluídas pelos refletores luminosos, dificilmente resistimos o contemplar o céu estrelado. Mas quando o olhamos, o que buscamos? Especialmente se o vemos à luz do dia, como o espaço azul vazio, o que procuramos nele?
O ser humano é o único animal para quem o céu faz sentido. Isso faz parte de sua natureza racional e poética. Os outros seres, se o olham, é em busca de alimento alado ou se levantam a cabeça, não é para o céu que olham, mas para pontos elevados, em busca de alvo ou de apoio.
Se olhamos os céus, e então o plural se faz pertinente, o que temos lá?
Para o autor do do salmo 73:25, só Deus. Ele disse  ter seu Deus lá.
Temos alguma esperança lá? Alguém? Entes queridos? Pensamos nos que nos precederam na partida? Cremos que voltaremos a encontrá-los? Se tal esperança povoa nossa fé, temos mais razões para contemplar os céus.
Mas são os céus uma realidade pretendida? Uma necessidade existencial? Uma utopia religiosa ou uma certeza?

1- A Revelação de Deus em Sua Palavra nos afirma que é uma realidade. Jesus veio de lá:  pois descí dos céus, Ele afirmou (João 6:38).
2- É uma necessidade existencial. A vida terrena não pode acabar num vapor. Os investimentos de todo um sistema e da vida humana singular são a fundo perdido e ultrapassam em muito a própria história pessoal. Atravessam e afetam as histórias coletivas, gerações e civilizações posteriores, para serem tão transitórias e terminais.
3- Seria uma utopia religiosa? Então seríamos os mais miseráveis de todo os seres e não teríamos explicação consciente e plausível para a expectativa da alma humana quanto à eternidade: ...também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade... (Eclesiastes 3:11). É verdade que a grande maioria tenta sufocar e compensar esse anseio temporalmente, mas a esses se refere o apóstolo Paulo como sendo os que não têm esperança.
Talvez por beberem em fontes indevidas. Pouca gente se apercebe de que os céus nas religiões pagãs beira ao ridículo, enquanto na fé cristã ele é descrito com propriedade, racionalidade e é concebível ao entendimento e compreensão humanos.
4- O céu é uma certeza. Jesus a afirmou quando disse:  na casa de meu Pai há muitas moradas. Também o Espírito de Deus testifica conosco quanto a essa certeza de que a Bíblia fala com clareza.

O que temos aqui que nos move a olhar os céus?
Uma vida passageira, mas tão complexa que reclama continuidade;
Uma vida sofrível e apenas vagamente compensadora, que reclama, por conseguinte, satisfação ou compensação;
Uma contínua busca por completude;
Afora dores, frustrações que chegam à perplexidade. Tudo isso combinado nos impulsiona a olhar os céus ou pensar neles.

E o que podemos ver ali?
Temos visões espirituais, via a Promessa divina: A nossa cidade está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo - (Filipenses 3:20); Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia. Vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia dos céus, da parte de Deus preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou- (Apocalipse 21:1-4); Então o anjo me mostrou o rio da água da vida que, claro como cristal, fluía do trono de Deus e do Cordeiro, no meio da rua principal da cidade. De cada lado do rio estava a árvore da vida, que frutifica doze vezes por ano, uma por mês. As folhas da árvore servem para a cura das nações. Já não haverá maldição nenhuma. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão. Eles verão a sua face, e o seu nome estará em suas testas. Não haverá mais noite. Eles não precisarão de luz de candeia, nem da luz do sol, pois o Senhor Deus os iluminará; e eles reinarão para todo o sempre - (Apocalipse 22:1-5).
O céu é o superlativo ou coroação da existência humana na terra, pois é a eterna habitação com Cristo, o Cordeiro de Deus.
É esperança certa e segura. Os salmistas decantam-no: Os céus louvam as Tuas maravilhas, Senhor, e a Tua fidelidade na assembléia dos santos. Pois quem nos céus poderá comparar-se ao Senhor? Quem dentre os seres celestiais assemelha-se ao Senhor? (Salmo 89:5,6); Os céus proclamam a Sua justiça...(Salmo 97:6); Os céus declaram a glória de Deus...(Salmo 19:1).
Paulo aludiu a ele: Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado ao terceiro céu. Se foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem- se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe- foi arrebatado ao Paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é lícito falar - (II Coríntios 12:2-4).
Jesus prometeu o céu aos que nEle crêem - Não se turbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver. - (João 14:1-2); Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde eu estou e vejam a minha glória, a glória que me deste porque me amaste antes da criação do mundo - (João 17:24).

Nosso coração aguarda o céu, e isso sintomatiza que nascemos do Alto, conforme registra João 3:3.

Jesus garante o céu a todo o que nEle crê: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim não morrerá eternamente... -( João 11:25,26);  As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão - (João 10:27,28). Amem.


Pr. Cleber Alho.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

GEMIDOS OUVIDOS

Do Seu santuário nas alturas o Senhor olhou; dos céus observou a terra para ouvir os gemidos... – Salmos 102: 19 e 20.

Há algumas décadas, num pequeno templo metodista no interior do estado do Rio, eu ouvia a missionária Dorcas Barros Silva, de saudosa memória, pregar um dos seus inesquecíveis e ungidos sermões, baseado no texto de Romanos 8, que ela intitulou como: “Os Gemidos que Deus Ouve”. Dali em diante, tornou-se impossível ler o texto sem ouvir aquela voz, compungida, pontuando os três agentes de possíveis gemidos ouvidos por Deus.
Lendo o texto do Salmo 102 dou-me conta do quanto Deus é sensível a gemidos. O Deus que vive entre louvores de serafins, no Seu exaltado trono tem Sua atenção baixada à terra onde os seres criados gemem. O texto de Paulo nos informa que também há eco para alguns gemidos, dentro do céu. O Espírito Santo geme quando intercede pelos filhos de Deus.
Mas a questão do gemido é intrigante. Há quem confunda gemido com queixa, mas a mim quer parecer que Deus não os confunde, e portanto não Se ocupa com as queixas. A respeito de queixas diz Sua Palavra: De que se queixa o homem mortal? Queixe-se cada um dos seus pecados... E essa expressão, longe de consentir, reprova. Quanto ao pecado, o gemido de arrependimento, este sim tem ouvidos no Céu de Deus.

Há acentuada diferença entre queixa e gemido. Enquanto a queixa indica impertinência, contrariedade, crítica sem forma e insatisfação; o gemido é uma súplica por ajuda, a fala da fraqueza, insuficiência; o idioma do sofrimento que alguém necessita comunicar. E penso que é dentro deste último aspecto que opera o Espírito Santo conforme nos informa o apóstolo Paulo em Romanos 8:26, ao afirmar que o Espírito de Deus geme quando intercede por nós, e ele diz que são gemidos que ninguém consegue copiar: inexprimíveis. Dá o que pensar! E num desses pensamentos me ocorre que, em se tratando do Espírito que é Deus, o Deus Eterno mais pronto está a ouvir. Mas a questão inevitável é: Por que Ele geme quando ora por nós? Se já é uma informação que ultrapassa nosso entendimento saber que o Espírito de Deus ora a Deus a favor dos homens, onde fica o entender que Ele geme quando ora? Ou enquanto ora? Resta à fé aceitar com gratidão revelação tamanha!

Mas, dentro do texto de Romanos 8: 19-25, parece que podemos desdobrar algumas informações que “justificam”os gemidos do Espírito, pois nesse trecho o apóstolo Paulo nos diz que a natureza criada, e aí fala do nosso quintal e demais corpos celestes, geme por conta da queda que a fez perder seu lugar de exaltação e pureza, como no Eden adâmico. Geme por causa da queda de seu único guardião: o homem, feito à imagem e semelhança de Deus. Basta um olhar introspectivo para nosso cotidiano, e nos damos conta do quanto somos vândalos e depredadores. Não só porque poluímos nosso espaço do qual dependemos para viver bem, mas por conta de nosso tremendo desperdício.

Você está atento(a) às últimas pesquisas? Sabia que o brasileiro é um dos habitantes do planeta que não só mais desperdiça alimento diariamente, mas o faz no maior índice entre os demais povos? Enquanto temos uma significativa faixa de conterrâneos vivendo na zona da miséria absoluta, nosso desperdício de alimento saudável oscila entre 30 a 40% do que consumimos. Isso fala da queda. E de uma cultura sem trato, sem cuidado, sem zelo e sem consciência de valores reais. Mas há também tantas outras áreas a observar! Elegemos a cada dois anos homens e mulheres para ditarem e conduzirem as leis e a vida pública que regem nossa existência brasileira, numa política eleitoreira que gasta milhões de recursos financeiros escoando em campanhas políticas para e a fundos perdidos. Até o espírito dos santos geme diante de tais fatos, quanto mais o Espírito Santo de Deus!

Ele, o Espírito Santo, geme empaticamente. Geme, porque a natureza chora sua situação de queda, a nossa, que a vitimou. Geme porque os crentes gemem por dentro (v.23) na expectativa de galgar sua posição real e elevada de filhos de Deus, o que vive obscuramente ainda, em esperança. Ou seja, uma vez feitos filhos, vivem como se não o fossem; vivem como criaturas sobrecarregadas de ansiedades diversas, e a posição de filhos é vivenciada em esperança, via a fé. Então, há tanto por que gemer! Basta perceber como oramos; o núcleo, conteúdo de nossas orações, quase que exclusivamente petitórias.

Em alguns momentos apenas, celebramos. Quando louvamos, por exemplo, num ato cúltico. Quando agradecemos tocados pela Presença do Pai que nos fala internamente Suas promessas pela Palavra Eterna. São momentos. Não vivemos como filhos, a não ser em esperança. Estamos sempre desejosos, insatisfeitos, pedindo, buscando, querendo... insaciáveis. Como os demais. A diferença não vai muito além do fato de que sabemos Quem é a fonte onde nos dessedentamos. A grande maioria dos filhos, busca suprir-se nos mesmos canais e dos mesmos conteúdos dos que não O têem por Pai. E pior: trazem em suas petições o desejo de se saciarem com a comida daqueles: “os jornaleiros de meu pai que têm fartura de pão”. Não resta muito mais ao Espírito Santo que gemidos, quando por nós suplica. Lembro da Dorcas dizer, neste particular, que o Espírito, a Quem cabe a função de glorificar o Filho de Deus (“Ele me glorificará”, disse Jesus), contrariamente a isso geme. E geme, disse ela, porque ora a favor de vidas que pecam só em viver.  Até o Dia da redenção, viveremos como filhos mal posicionados. Ainda que filhos, desprovidos de privilégios.

É fato que entre os filhos, nos últimos tempos surgiram enganadores nos impingindo como verdade bíblica a técnica psicológica de negar o sofrimento, não vê-lo nem assumi-lo, mas festejar e celebrar como se assim não fosse, com a pretensão supersticiosa (e vazia de inteligência) de que o afugentariam de sua experiência real.  Os ufanistas. Contra eles temos Paulo dizendo que “nós, que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente enquanto esperamos ansiosos nossa adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”(v.23), pois vivemos em esperança(v.24). É quase como se dissesse: “Se não temos por que gemer, não somos filhos”...

Mas, o que desponta para nós é que o Deus Eterno, como Criador de todas as coisas e em particular como Pai dos crentes em Cristo Jesus, está atento aos gemidos. É sensível a gemidos. Deixa-Se tocar por eles; inclina Seus ouvidos. Desce para recolher lágrimas, ficar junto, aliviar, socorrer. Por isso, diz Sua Palavra: “Ó, Tu, que escutas as orações! A Ti virá toda a carne”.
Odiamos a idéia de gemer. Ela fala da fraqueza em sua máxima expressão. Pede ajuda. Mas, quando gememos, mais conformados à nossa realidade e estrutura humana estamos. E mais ouvidos no Céu, nós somos.

Não tema os gemidos de sua alma. Eles apenas dizem que você é humano(a).  Eles dizem que você reconhece como antinatural o que ocorre de opressivo e injusto à sua volta. Eles falam de sublimações que você espera pela fé: de ser exaltado dos baixios de sua existência humana, à gloriosa revelação de filho e filha de Deus, no Dia da manifestação de Jesus o Senhor da História, e redentor de nosso ser.

Ouvimos que não sabemos orar como convém. Verdade absoluta. Então o gemer é a oração que resta. Os gemidos são traduzidos pelo Espírito Santo, numa linguagem que fala ao Deus Eterno de sua esperança no que Ele tem de maravilhoso e indizível para sua existência no novo sistema que ainda vai manifestar-se, tido e dito como “novos céus e nova terra nos quais habita a justiça”. Aleluia!


Pr. Cleber Alho