sábado, 23 de maio de 2015

SOSSEGA!

Aquietem-se e saibam que EU SOU DEUS... Salmo 46:10.
A agitação dos pensamentos e vontades que se acumulam,carreia para o espírito humano um estado estressante, enfermiço, que a princípio parece um bem-estar calcado na busca consciente por vencer e avançar, para tornar-se em pouco tempo num comportamento doentio, desassociado da tranquilidade pretendida por Deus para Seus filhos.
A Bíblia inspira e convida ao descanso e quietude que deveriam entremear o corre-corre inevitável da vida. Jesus vigiava sobre isso no Seu cotidiano e O ouvimos certa feita dizer aos discípulos: Venham à parte descansar um pouco... O Mesmo Jesus que nos viu como “ovelhas sem pastor, exaustas e aflitas”. O Mesmo que reprovou o comportamento agitado (ainda que bem motivado e justificado) de Marta, irmã de Maria e Lázaro, e elogiou o sossego de Maria, aquietada a Seus pés para ouvi-Lo. Foi Ele Mesmo Quem revelou-Se nosso shabat, ao convidar os que se encontram sobrecarregados a chegarem-se a Ele para achar descanso. Ele disse: “Não andem ansiosos”. O apóstolo Paulo outro tanto recomendou aos crentes de Filipo: “Não estejam ansiosos por coisa alguma”.  As pessoas se cansam no que fazem e do que fazem.
Este século montou um esquema de conquista imediata e busca irrefreável por vencer e avançar em busca do visível e tangível, onde nada sobra do invisível a não ser o imaginário e o sonho. E isso por fim acaba matando os que se atiram a esse programa desvairado. Primeiramente morte psíquica, e depois, ao longo de um tempo nem tão longo, biológica.
“A pressa mata”, diz o slogan do Detran no trânsito. E mata. E não somente nas estradas, mas nas carreiras da vida em geral. No entanto, o ser humano está cada vez mais apressado, e quanto mais pressa tem, menos tempo encontra, para si, para os seus, e para Deus.
Deus manda Habacuque fixar num out door aos apressados: “A visão não tardará. Se tardar, espera” (Podemos traduzir visão por sonho?). Quem tem pressa não espera. Só espera quem descansa. Por isso o Senhor avisou através de Isaías: “No sossegardes... estaria a vossa salvação...” O ser humano tem medo de ser atropelado, se pára para descansar.
Parece que a pressa e a ansiedade deram mãos à incredulidade.
É exatamente isso. Por esta razão o argumento divino à fé e contra a incredulidade é: “Aquietem-se e saibam que EU SOU Deus”. É isso. Ele está dizendo: “Relaxem as tensões, porque eu sou Deus”, como a provocar a confiança: “Eu dou conta”...
O fato de ser Deus consiste na razão maior para a promessa. Ele não está prometendo operar efeitos. Não precisa. A promessa consiste em Seu ser, na Sua Pessoa e essência divina, onde reside toda a suficiência para nossas motivações. Nessa declaração estão inseridos, a um só tempo, argumentos do tipo: Eu Sou; eu reino; eu vigio; eu sei; eu realizo, e mais...
Como Ele declarou a Paulo: “Minha graça te basta”, no salmo 46 Ele também está dizendo: “Eu basto!” Paulo aprendeu e ensinou aos crentes de Filipo: “Façam conhecidas diante dEle suas petições”, como antídoto para a ansiedade. A oração é o altar em que a alma aflita sobe para descansar. 
Ao que crê, a mensagem do Salmo 46:10 é suficiente para inverter todo o programa doentio das precipitações deste século que insiste em que corramos mais e mais, como a dizer: duplique o expediente, avance o sinal do tempo; passe à frente dos que vão adiante. A coreografia da realidade que denuncia por seus sintomas essa doença da alma é feita dia a dia no trânsito de nossas rodovias. À custa da segurança de todos, muitas vezes vemos incautos fazendo a ultrapassagem de um único veículo, para avançar uma única posição, como se estivessem num autódromo. Ele precisa dizer à sua psiquê enferma que ele está na frente!
Ao que nEle crê, diz o Senhor: Espera e descansa! “No teu Deus espera sempre”- Oséias 12:6.
Pr. Cleber Alho

quinta-feira, 21 de maio de 2015

QUANDO ALQUEBRADOS

Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio fumegante - Isaías 42:3.

O texto aponta a uma função ministerial do Senhor Jesus, ou a uma de Suas manifestações pastorais, e esta diretamente ligada à proposta de refrigerar a alma de Suas ovelhas.

É uma metáfora, que traduz uma imagem de fraqueza humana, que é diferente de fracasso.  Fraqueza é condição inerente à forma humana, embora o ser humano em sua jactância não o admita, mesmo o crente. Fracasso é resultado de escolhas mal feitas. Somos frágeis, como ovelhas naturalmente dependentes, e vistos do Alto e pelo Alto como tais.

Frágeis porque humanos, porque hóspedes de um planeta que levamos à bancarrota moral e material, via o pecado.

Frágeis por conta de nossa natureza pecaminosa, humanidade decaída.

Deus tem consciência dessa fraqueza humana e investe nela, com propostas socorristas, e isso aponta para Sua misericórdia revelada em Cristo Jesus. Fala da Graça.

O frágil, e na condição de crente, ovelha, é dependente ou deveria ser, e nesta condição essa fragilidade via circunstâncias da vida e natureza inerente, algumas vezes se aguça e desponta como uma cana quebrada ou um pavio fumegante.

A cana quebrada para nada serve a não ser como comida para gado. É relegada a uma consumição. Não serve para mais nada; não é garantia de frutificação.

O pavio fumegante é aquele que não ilumina mais, nem aquece; mas ainda é promessa remota de luz, de reacender.

A cana quebrada pode ser reestruturada, porque ainda que partida, está presa à raiz. Tem vida.

Ao afirmar: Ele não quebrará, não moerá a cana nem apagará o pavio, a Promessa aponta um programa de restauração em curso por uma razão simples: Deus vê vida na fragilidade reputada por fracasso. Ele crê em possibilidades.

Mas pensemos um pouco nessa quebra e quase extinção: Quantas vezes, tantas vezes, somos por elas surpreendidos na vida! Ou ocorrem por situações perpetradas por terceiros, ou por erros inerentes às nossas incapacidades, insuficiências, ou por conta de tropeços, percalços no caminho da santidade. Ou ainda são vitimizações via doenças, mudanças bruscas no sistema financeiro, ou dores de alma como luto ou perdas similares.

O resultado é uma fraqueza que derreia, inutiliza, deprime, põe pra baixo.

Algumas vezes um falso autossenso de inutilidade invade os sentimentos e se aloja no pensamento quase que de forma obsessiva.

O horizonte fica nebuloso, cinzento e distante demais para as forças que faltam garantirem chegada.

Então desanima o fraco e dele desistem seus ajudadores. É cana quebrada, pavio que fumega sem luz e só dá cor de si pelo cheiro da fumaça que desprende. E incomoda. A cana quebrada, quando nela sopra o vento no canavial, geme. Penso nos bambus partidos dos riachos de Analândia e horto florestal de Rio Claro. Em seus gemidos, cantam...

Quando Daví  " quebrava"  mais sonoros seus salmos ficavam. Ele estava quebrado quando compôs os salmos 32, 51, 63. Quem os esquece? O bom Deus escuta.

A promessa do Pastor corre célere para socorrer e gritar: " Não desprezarei!; Não quebrarei!; Não apagarei!;  Não desistí de você!"

E no núcleo da proclamação correm vozes paralelas: " Diga o fraco: eu sou forte"; " Da fraqueza tiraram força"; " Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza!"

Nossas fraquezas não causam surpresas em Deus.


Aleluia!

terça-feira, 5 de maio de 2015

CÂNTICO DA NOSTALGIA

Quanto aos santos que há na terra, eles é que são os notáveis em quem está todo o meu prazer- Salmo 16:3.

Recentemente um jovem que é achegado a uma das minhas filhas, novo convertido, disse-me num desabafo sentido: __ Uma vez crente, eu me vejo completamente sozinho em casa, entre meus parentes e entre os amigos de antes, porque nenhum é crente. Entende como me sinto?” Eu entendia sim, e muito bem. Lembrava-me um tempo em que o Evangelho me alcançara e de fora ficaram todos os meus. Nenhum recurso restou a não ser me voltar para a família da fé, que trazia agora os mesmos ideais, linguagem e comportamento.
Foi precisamente o que sentiu e disse o salmista no texto acima. Há um contexto, e esse aponta ao fato de que ele se expressa vivenciando uma busca intimista do Senhor em Quem se satisfaz e a Quem quer acima de tudo e de todos. Basta dar sequência à leitura do salmo. E nele o salmista inclui  no cenário dessa relação, aqueles que estão a Ele, o Senhor, ligados por aliança. Destaco o fato, comprovando isto, de que por notáveis, referente aos santos, o autor emprega um termo aplicado profeticamente a Jesus, termo messiânico, em Jeremias 30:21.
Isto aponta para mim a idéia de que os santos participam de tal maneira dAquele que é Santo, que Este pode ser achado neles; são da mesma natureza.
Mas voltando ao autor, ele teria dito, literalmente: Quanto aos santos que são da terra, eles são os notáveis em quem está todo o meu prazer. Portanto, seus argumentos no texto fecham seus movimentos existenciais em termos de prazer, alma, afetos, em torno de dois eixos: o Senhor e os que pertencem a Ele, os que, conforme o salmista, com Ele estão em aliança. 
O ponto em questãé a convergência ou centralização do prazer de ambiência: a comunhão dos santos. Vale lembrar que Pedro posteriormente vai se servir deste salmo apontando como messiânico e atribuindo sua mensagem ao próprio Senhor Jesus, logo, depreendemos que profeticamente o salmista nos indica que essa fala pertence ao próprio Senhor: Seu prazer nos santos que vivem na terra, a quem tem por notáveis, príncipes, tal como Ele é.
Esta linguagem: comunhão dos santos, é diferente de ajuntamento dos santos. Aponta antes a uma busca por companheirismo, vivência, algo que ultrapassa programas, eventos.
Na linguagem do salmista a idéia contida é que a abrangência do seu deleite se concentra na comunhão dos santos, naqueles que estão identificados com o seu Senhor. Tudo o mais fica de fora, pois ele disse: Todo o meu prazer.
Hoje, esta é uma experiência possível e presente?
Quem e onde estão os santos? A quem cabe hoje esta designação?
O termo alude aos que estão separados para, tanto quanto separado” está o Senhor.
Mas o texto do salmista, como dissemos, os identifica como aqueles que Lhe são idênticos, ou, da mesma natureza dEle, dignos do mesmo título.
Acredito que a resposta a esta questão levantada: possibilidade e realidade presente, só se encontra quando o significado do termo ultrapassa o teórico para o essencial: separados e identificados com Ele.
Não há como vivenciar prazer na companhia de crentes, apenas por conta dessa designação confessional: evangélicos, da mesma comunidade, etc. Pelo contrário, prazer só com os santos, onde se harmonizam tanto a fala quanto as paixões na vida, porque as lentes que lêem a existência têm o mesmo grau e eixo.
Também vale lembrar, e transcrevo aqui, uma velha poesia que motivado por esta lembrança nostálgica, escreví já nos anos 1980:

Eu devo Te olhar, 
E pela fé firmar
Em Ti, meu coração.
E que verei, Senhor?
Um Cristo afeito à dor;
Capaz de dar perdão.

Havia doze santos, e todos escolhidos, 
E dentre os doze, três, que não mais preferidos,
Contudo mais chegados...mais íntimos e prontos.
No entanto, um deles falta à Tua confiança,
E ainda assim o pões por sobre liderança,
Do Teu rebanho eleito em Teu fiel cuidado.
E mesmo um traidor, que entre os doze havia,
Fizeste um escolhido; fizeste um enviado,
Que tanto quanto os doze, a abençoar seguia
Cumprindo o Teu  chamado.

Sim, Cristo, amaste a Pedro; a Judas Tu amaste.
E se hoje mais caíssem, estarias Tu amando.
E nesse mesmo amor, que a mim Tu revelaste,
Preciso aprender a ir Te imitando.
Porque não faltam pedrosjudas, eu até...
Quem sabe, em vez ser do cerne de João,
Esteja eu a viver, qual Pedro irrizão,
Traindo como Judas, descrendo qual Tomé?
Ó, dá-me um perfil que exceda a tudo isto,
Que vá dos meros homens, a ser perfil de Cristo.
(Alho, Cleber- Quando Canta o Coração, p.49).
Com carinho,
Pr. Cleber Alho

segunda-feira, 4 de maio de 2015

BRASAS DE UM SACRIFÍCIO

Nossos textos são Gênesis 22:1-18 e Hebreus 11:17-19.

Estamos familiarizados com a linguagem do Evangelho na boca de Jesus quando Ele diz:  Se alguém quiser vir após Mim, negue-se (renuncie) a si mesmo... (Mateus 16:24). Embora seja lugar comum na vida cristã a dificuldade para entender e aplicar a abrangência dessa renúncia, alguns de nós a tratam com o caráter de um sacrifício.

Mas há uma distinta distância entre as idéias qu esses termos encerram. Na própria expressão de Jesus, a renúncia requerida é quanto a si mesmo, ao que se é e se tem em conta. Mas sacrifício implica em oferta que se entrega, que se perde para alguém. Então, basicamente, a diferença reside em entregar-se e entregar algo de si.

Um exemplo clássico desse entregar algo de si está na “queixa”informada por Amós, quando afirma que de seu espaço profissional Deus o tirou para ser profeta.
Há quem interprete que a filha de Jefté (Juízes 11:37) sacrificou seu direito ao casamento para atender ao voto precipitado feito por seu pai.

Paulo fala daqueles que voluntariamente assumem o celibato para servirem ao Senhor, e vários outros exemplos poderiam ser citados na Bíblia de vidas que levaram ao sacrifício o que tinham por direito, em oferta voluntária a Deus.

A dramática história de Abraão e o sacrifício requerido por Deus quanto à vida de Isaque, que assombra quantos a lêem, reproduz para nós os detalhes que implicam num sacrifício. Por mais que este evento nos impacte como absurdo, ele nos descortina os movimentos pertinentes a um sacrifício voluntário a favor de Deus.

Nesta história de Abraão, suspeita-se de um litígio encenado entre Abraão, o adorador, e o Deus adorado. Algo como Deus ter pedido Isaque a Abraão por conta do lugar que Isaque passou a ocupar na vida de seu pai. Embora esse seja um tema bastante explorado, é especulativa a interpretação.
Mas, razões divinas à parte, nosso foco é o sacrifício em andamento.
Baseados no fato de que somos apontados em Romanos 4:12 como aqueles que “andam nas pegadas da fé que teve nosso pai Abraão”, fico a pensar como seria pisar sobre essas pegadas no terreno do sacrifício.

Ao pensar, a primeira coisa que me chama a atenção é o fato de que Isaque, além de ser o filho que o próprio Deus salienta como “único” e “a quem amas” (mesmo sabedor de que havia Ismael), ele era a expressão inconteste da bênção e cumprimento de promessa na vida de Abraão. Uma promessa sobre a qual decorreram mais de 20 anos e na qual o servo de Deus investiu muita fé. Não só. Isaque ia além da personificação de bênção para ocupar o lugar daquele que seria o canal do cumprimento da Promessa por excelência que Deus fez ao seu pai. E devemos lembrar que as condições em que ele nasceu, eram por si mesmas tão milagrosas que inviabilizavam qualquer concurso humano.
Pois bem: o que foi requerido a Abraão, era que sacrificasse sua bênção, diretamente vinda das mãos divinas.

E ele assume atender.

A cena é exposta ante nossos olhos com requinte de detalhes: Deus fala com Abraão e ele passa a noite com essa mensagem na cabeça. Que noite deve ter sido! Imagino se Abraão ficou tentando achar uma brecha qualquer na ordem divina para interpretar de outra maneira menos trágica a decisão que se lhe impunha.

Mas, pela manhã está decidido, e convoca servos ajudadores para a jornada. Passa em revista o que teria de levar como imprescindível a um holocausto: brasas, lenha e cutelo. Também a vítima: seu filho; sua bênção. Havia algo mais a levar: o silêncio sobre a finalidade daquela jornada.

Isaque, rapazola esperto, no início do caminho passa em revista, por sua vez, os apetrechos. Ali estavam lenha e brasas. Ali estava o cutelo. Mas, e o animal a ser morto e queimado? Estaria o pai tão velho que teria esquecido o elemento mais importante?

A fala do filho deve ter doído fundo no velho pai quando chegou aos seus ouvidos: __Meu pai – “Abhí”, ele teria dito na língua paterna.

__Sim, meu filho – “benní”, teria dito Abraão. Expressões de ternura entre filho e pai.

__...onde está o cordeiro para o holocausto?

Surpreende a rapidez da resposta de um homem idoso a quem essa pergunta deve ter golpeado fundo na alma:

__Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, “benní”.

Não era voz profética. Era a saída que ele encontrou. E o texto diz que continuaram a caminhar juntos. O verso 4 nos informa que esta foi uma caminhada de três dias! E é então que me surge um outro pensamento: A lenha deveria ir nos lombos de um jumento ou sobre um dos servos, mas suspeito que Abraão levava as brasas. Três dias de caminhada cuidando para não deixar que as brasas se apagassem. Ora, as brasas eram para o incêndio da lenha que consumiria o corpo morto do filho sacrificado, ou seja, consumaria o sacrifício de maneira a não ter mais volta.

Se as brasas apagassem, teríamos aí, talvez, boa desculpa para a não consumação do sacrifício.

O autor de Hebreus (11:19) nos diz que Abraão cria, em seu coração, que Deus pode ressuscitar os mortos. Talvez fosse esse o filete de esperança em meio ao trágico movimento daquela pequena caravana de adoradores. Mas, depois de consumido pelo fogo, se operaria a ressurreição? Lembremos que estamos num nível da Revelação ainda muito precoce. Abraão não era detentor do conhecimento de Paulo sobre a ressurreição do corpo, morto como uma semente. Vivia ainda a um tempo em que prevalecia a idéia de que a ressurreição ocorreria a partir da sepultura. Mas ali estava o fogo, mantido aceso três dias de jornada, que simbolizava a destruição de qualquer vestígio de esperança.

Vem-me à mente que ao trabalhar por preservar acesa a chama que finalizaria o sacrifício e a esperança, estava Abraão prefigurando para nós a ordem divina passada quatro séculos depois a Moisés: “Mantém a chama acesa; o fogo não pode se apagar” ( Levítico 6:12).

É possível que Abraão se servisse desse fogo à noite para iluminar o descanso e trazer calor.

Manter a chama acesa era portanto investir na preservação do propósito de chegar à consumação do sacrifício. Embora fossem três dias, representavam toda a jornada.

E então me ocorrem alguns outros desdobramentos:

Se Deus nos pedir o sacrifício consumado de uma bênção que representa a finalidade de toda nossa existência, faríamos a marcha da consumação?

Pensar na preservação da chama que aquece nossa paixão, é fácil. Mas preservar aquela que vai nos levar a uma perda definitiva e sem volta para Deus? Dia após dia?

Quando lemos a finalização do relato, tanto em Gênesis quanto em Hebreus, respiramos aliviados nos regozijando com Abraão e por Isaque, ainda olhando de soslaio para Deus. Mas há algo que nos escapa: Deus impediu a morte de Isaque na hora undécima, porque sabia que Abraão, de fato, já havia consumado o sacrifício em seu coração. O simples fato do registro em Hebreus assumir que Abraão cria que Deus poderia trazer de volta seu filho, prova que Abraão já o tinha como morto. Deus não necessitava de mais nada.

Uma última ocorrência para nós, está no fato de que embora Isaque voltasse vivo do monte, alguém morreu por ele ali, em seu lugar: um cordeiro achado preso a um arbusto pelos chifres. Todos nós gostamos desta finalização e seu possível significado.

Mas o final dela está nos versos 17 e 18 de Gênesis 22 – “Esteja certo de que o abençoarei e farei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar... porque você me obedeceu.

E isto estabelece por fim, que um sacrifício oferecido dentro da perspectiva de Deus     (e não segundo a fantasia de quem oferece) é um ato de obediência.

Pergunto: Teríamos aí outro possível desdobramento - que nossos atos de obediência por fé representam um sacrifício a favor de Deus? Bem, se não chega a tanto, podemos deixar que sobre isso fale o profeta Samuel: “Acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios quanto em que se obedeça à Sua Palavra? A obediência é melhor do que o sacrifício...” ( I Samuel 15:22).

Enquanto pisamos a trilha de nossa carreira de fé, devemos manter acesa a chama, custe o que custar, para que nunca se apague o fogo que há de levar nossa oferta de vida à consumação no altar do Deus a Quem adoramos.

Mantenha viva a chama...que está em você... (II Timóteo 1:6).