quinta-feira, 23 de julho de 2015

JESUS CHOROU


João 11:35.

De que solene reverência se revestiu momento tão sublime quanto este!
O pranto divino. O momento em que o Filho Unigênito de Deus Se identificava em toda a expansão da dor humana com a mais forte expressão de afeto de suas criaturas: o pranto.
Penso no céu parando para contemplar aquela cena. Penso na expectativa, na surpresa, na admiração das hostes celestes, ao contemplarem lágrimas a deslizarem suaves pelas faces santas do Divino Mestre.
O Homem-Deus, o Deus-Homem chora, como o faz qualquer de Suas criaturas.
Há choro na terra algures. Em algum lugar ainda chora o crente e chora o incréu. Chora o bom e chora o mau. Chora o homem e ainda chora Deus.
Jesus chorou a morte temporária de um amigo que não podia ser retido por ela.
Hoje choramos a morte de tantos valores do único ser capaz de qualidades morais, espirituais, identificadas com a natureza do seu Deus e Criador.
Penso em Jesus chorando hoje sobre o mundo que vive os dias como os dias de Noé”, onde grassa a injustiça, a devassidão moral, a desvalorização da honra e campeia o amor ao dinheiro, ao poder, à corrupção, ao mentir e toda sorte de miséria que a baixeza do homem decaído pode criar e operar. Chora a moral que se nivela por baixo, numa triste acomodação do imoral e vil, travestidos de normais via consentimento repetitivo de desvalores que acabam ganhando força de lei para ditar normas.  Jesus chora um mundo onde em linguagem de Oséias 4:2, o que  só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar, e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios. Mensagem que parece extraída das manchetes diárias de nossos jornais. São os dias acerca dos quais o apóstolo Paulo disse: Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder” (II Timóteo 3: 2-5). Um cenário onde a marcha das misérias do caráter faz um desfile diário fora e dentro das portas domésticas. Como não chorar este cenário? Penso que os que choram, por si e por seus filhos e netos, contam entre aqueles que na visão de Ezequiel eram marcados por Deus por chorarem por Jerusalém, lamentando suas tragédias.
Penso em Jesus chorando hoje sobre a Sua Igreja, tão confundida com o mundo, mesclada a ele no sentido negativo da proposta, como numa argamassa, simbiose de identidade, entremeada de esquemas deste século e tão mecanizada com técnicas religiosas” que a desvestem de genuinidade e de seu caráter de Corpo de Cristo, capaz de unida à Cabeça, chorar como Ele o fez. A Igreja marcha desprovida de santas emoções, mais encharcada de emoções festivas, maioria das vezes celebrando uma vida que não tem honra em si mesma.
O pranto de Deus na face de Cristo sugere-me que há para a Igreja hoje um convite, uma proposta divina a ficar aqui e vigiar um pouco, chorando também o pranto intercessor e de sensível protesto sobre o infortúnio de tantos desgraçados, desamparados, infelizes, vítimas do pecado, da injustiça de governantes e leis hipócritas, do engano e da corrupção.
Há uma proposta à Igreja para que chore, sentindo a mesma coisao mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus
Particularizando, diríamos a esta representação do Corpo de Cristo de todas as épocas na qual estamos inseridos, que chore. Que chore quebrantada, enquanto a face impassível de um mundo que já se acostumou à miséria e à devassidão da imoralidade e da injustiça não mais estremece ante horrores inomináveis, jactando-se do pecado e da imundície e permanece seca. Que chore sensível ao toque de Deus! Juntamo-nos ao apelo de Joel para dizer: Reúnam o povo, consagrem a assembléia; ajuntem os anciãos, reúnam as crianças, mesmo as que mamam no peito. Até os recém-casados devem deixar os seus aposentos. Que os sacerdotes, que ministram perante o Senhor, chorem entre o pórtico do templo e o altar, orando...(Joel 2: 16 e 17). Chorem os crentes brasileiros o deboche feito a eles por seus governantes e suas corrupções descaradas. Chorem homens e mulheres de Deus a igreja brasileira que copia  e importa lixo religioso para dentro de suas naves, e consente com uma profecia " evangélica" pregoeira de anestesia espiritual e emocional diante de falência de honras. Chorem a vergonha de uma liturgia tão ufanista de conquistas temporais, mas descaradamente desprovida de caráter espiritual. Que chore em busca do retorno de paixão por Deus.
Que se possa dizer da Igreja, tanto quanto do seu Cristo e Senhor:  A Igreja chorou!
Pr. Cleber Alho.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

JOQUEBEDE E O BERÇO


As mãos trêmulas denunciam o palpitar soturno do coração materno que deita o filho no cesto e o confia às àguas da dúvida em conflito com a esperança. Águas turvas de mistério e que se entortam nas curvas da separação forçada pela vontade ímpia e irracional do algoz. E a mãe de Moisés o entrega àquele útero de palha, frágil, mas sua única certeza da evitação da morte ou seu adiamento silencioso ao sabor do tempo. Os olhos chorosos fitam a tíbia nau que rouba dos seus ouvidos os sons doces dos ruídos brincalhões, e a sensação da tez macia da mãozinha que toca seu queixo enquanto busca vida em seus seios. Até que a curva do rio lhe impede a visão.

A angústia a faz correr pela margem do riacho. Não dá mais para tomar de volta a oferenda feita à fé numa improvável salvação. O coração salta a cada balanço do cesto da preciosa carga, passageiro da sobrevivência divertindo-se ao custo dos soluços de uma mãe estremecida. E surge um remanso e o berço de vime cessa a jornada entre as fraldas de jovens donzelas que riem a se banhar.
Olhe lá! É um cesto grande e fechado! Quem o teria perdido nas águas?
Vá buscá-lo para mim! - Ordena a moça de finos traços.
Senhora! Senhora! Há uma criança aqui, balbuciando e feliz!
Traga-o a mim. Traga-o já para mim!
Senhora, é um menino hebreu!
Alguém o enviou a mim. Hebreu ou não, será meu.

E a mãe ansiosa contempla tremente o desfecho. "As águas não tragaram meu filho", pensa. "Mas a espada do rei o perseguirá!"
No entanto, percebe que o menino gorducho é posto ao colo da dama adornada, e seu olhar para ele acusa carinho, fascínio, atração.
Não morrerá o meu menino. Achou ali outra mãe.
E volta à aldeia, alma dividida entre o alívio de sabê-lo salvo e a dor da separação. Mal adentra à choupana, e batem-lhe à porta. Sua filha, ainda pequena, menina esperta, que lhe traz um recado da casa  do rei, em busca de uma ama de leite para um recém nascido, adotado no palácio.
Sabes de alguém, mãe.
Eu, minha filha.  Eu posso ser a ama do meu filho, cheia de  leite como estou.

Nesta mesma tarde, tem-no de volta ao colo, e torna a cantar-lhe as canções da esperança de escape, livramento, honradez. E diz-lhe: "Filhinho, confia sempre. Ele é teu Deus! É um Grande Deus! Ele conduziu as àguas e delas te tirou para viver. As águas do desterro tornaram-se tua estrada da vida. O berço do abandono, o colo de tua vitória, porque Ele luta por ti! Cresce, filho meu, e O encontre em Tua vida. Vive para Ele e te admires dEle sempre. Um dia Tu descobrirás que o Deus de tua mãe é a Rocha, cujas obras são perfeitas".
 
Penso nessa mãe desesperada e revejo em sua aflição tantos desesperos outros. Tanta luta por entrega ou retenção. Reter é perder para sempre. Entregar, é investir na esperança incerta, mas de incerteza menor. Quem cuidará melhor? E a entrega? Sobre quais águas se fará? Uma vez entregue, não há como conter as águas, ditar-lhes o curso, espreitar seu desfecho. Mas há que entregar e confiar!

" Lança teu pão sobre as águas", grita a Palavra. É teu pão, mas entrega-o. É certo que, tal qual Joquebede, depois o acharás.

ESCOLHA O SEU SONHO

Em 1964 a escritora-poetisa Cecília Meireles lançou seu livro de crônicas cujo título era homônimo de um dos seus textos, onde ela redefinia o mundo segundo sua fértil e lírica imaginação. Ao dar ao livro o sugestivo título, " Escolha o Seu Sonho", a autora apelou para o que há de mais profundo e constante no âmago do ser humano, crente ou não: a possibilidade ou o desejo de poder escolher o seu próprio sonho. A existência humana, tanto na história coletiva quanto na pessoal, tem provado que esse tipo de poder é utopia no sentido de  possibilidade de construir a própria história como a plena realização de um sonho perfeito. A despeito de comprovada utopia, o ser humano não se cansa nem desiste de tentar e investir, reforçado também por argumentos psicológicos estimulantes que pretendem provar que sonhar é compromisso certo de realização, típico do slogan: " querer é poder". Mas isso não passa de magia pretensiosa.

E dentro desse filão correm os desejos vertidos em sonhos, ditando o místico, pontuando orações, sortilégios e coisas afins. Na ciranda financeira valem as apostas grandes e pequenas em busca do pote de ouro das loterias, no sonho febril do enriquecimento fácil, mormente em tempos de crise financeira pressagiando de novo falência para a economia do país como agora.

É fato que sonhar é uma forma de manifestar o desejo, e conforme preconiza a psicanálise, até o desejo inconsciente quando fala do sonho próprio do adormecer. Mas grande parte do desejo consciente dita sonhos elaborados no terreno da percepção fantasiosa.

Todavia, célere corre a Palavra de Deus para nos advertir que há de fato uma forma de sonhar e realizar, não mágica, mas cunhada pela lei da sementeira quando diz: " O que o homem semear, isso também ceifará" (Gálatas 6:7). Esta inquebrantável lei, antes de ser transcendental é existencial. E estabelece que há vias para nossas escolhas de sonhos e formas de sonhar. Daí o magno conselho do profeta Oséias (10:12): " Semeiem a retidão para si, colham o fruto da lealdade, e façam sulcos no seu solo não arado..." O mesmo profeta adverte que a má semente também produz frutos maus: " Mas vocês plantaram a impiedade, colheram o mal e comeram o fruto do engano..." (10:13). Outro tanto o apóstolo Paulo exorta: " Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna" (Gálatas 6:8). E a vida prova que assim acontece em todas as dimensões da existência do ser humano.

No mesmo tema insiste o apóstolo aos gentios em mostrar que o semear envolve até mesmo práticas materiais e possibilita o realizar colheitas na proporção correspondente: " Lembrem-se: aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente... Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come, também lhes suprirá e multiplicará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça" (II Coríntios 10: 6 e 10). Infelizmente por aqui entram os apóstolos da torpe ganância para induzir incautos a semear dinheiro em suas contas bancárias, instigados por cobiças devoradoras nuns e noutros. Porém o erro de alguns não anula a verdade piedosa quando atrela esta liturgia da fé à Promessa afeita à fidelidade de Deus. Tanto que Jesus afirmou quanto à prática do dar e receber: "Dêem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. Pois a medida que usarem também será usada para medir vocês" (Lucas 6:38).

Esta lei espiritual do semear, que Paulo introduziu com a advertência: "De Deus não se zomba", estabelece, em outras palavras, a efetividade de um sonhar santo, sadio e possível. À luz do que lemos nos textos acima, fica entendido a meu ver, que a escolha do nosso sonho é possível a partir da escolha da semente da qual pretendemos fazê-lo nascer, crescer e frutificar.


Escolha o seu sonho a partir da semente, e então, "lança-o sobre as águas, e depois de muitos dias você tornará a encontrá-lo" ( Eclesiastes 11:1).

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Lâmpadas Resplandecentes


Disse o Senhor a Moisés: " Ordene aos israelitas que lhe tragam azeite puro de oliva batida para as lâmpadas, para que fiquem sempre acesas. Na Tenda do Encontro, do lado de fora do véu que esconde as tábuas da aliança, Arão manterá as lâmpadas continuamente acesas diante do SENHOR, desde o entardecer até a manhã seguinte. Este é um decreto perpétuo para as suas gerações. Mantenha sempre em ordem as lâmpadas no candelabro de ouro puro perante o Senhor. - Levítico 24:1-4.

Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus. -  Mateus 5:14-16.

Prefiro pensar nessa luz, que Jesus nos atribui, como as lâmpadas do Candelabro no Tabernáculo.

Jesus nos declarou como sendo luz. Não como aqueles que têm luz para si mesmos, mas luz para trevas exteriores, por isso entendo como lâmpadas. E é exatamente nesta direção que aponta o apóstolo dos gentios quando intensifica o conceito em Mateus 5:14 chamando-nos de luzeiros, em Filipenses 2:15 - ... que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como luzeiros... Observa-se que a finalidade dos luzeiros é brilhar em meio às trevas exteriores. Apontando como uma experiência e necessidade para fora de nós e a partir de nós, Jesus manda que a nossa luz brilhe diante de seres humanos, na interação com as pessoas. Isto estabelece também que não fomos postos como captadores de luz a nosso próprio favor. Antes, estabelecidos para iluminar em nosso entorno.

Deus determinou em Isaías 49:6 o propósito dessa luz em nós, crentes em Seu Filho Jesus Cristo:   ...farei de você uma luz para os gentios para que você leve a minha salvação até os confins da terra.
Falando a respeito de seu próprio chamado, Paulo confirma esse propósito, quando discursa perante o rei Agripa: ...para abrir-lhes os olhos e convertê-los e das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim. - Atos 27:18.

E a declaração de que somos luz não é estabelecimento teórico, mas funcional:  "que brilhe a luz diante dos homens, de tal maneira que eles vejam as boas obras de vocês e entendam sua origem divina, dando glória a Deus". Penso que tais obras convencem por sua performance, como procedentes de Deus. Para ilustrar sua afirmação de que quando somos doadores, mais nos parecemos com Deus, Charles Swindoll, em seu famoso livro, " Eu, um servo?" narrou a história de um soldado americano incógnito que numa manhã fria do pós guerra, na Berlim devastada pelas tropas aliadas em maio de 1945, estava passando por uma padaria ainda de pé e funcionando, no momento em que o padeiro expunha por dentro da vitrine uns pãezinhos fumegantes recém tirados do forno. Quando vai entrando para comprar seu lanche, percebe um menino maltrapilho, dos órfãos recentes da guerra, olhando fixamente para os pães, com cara de fome. Então ele entra, compra alguns, e quando sai os entrega ao garoto, que ato contínuo sai atrás dele, puxa-o pela farda e pergunta: " Moço. O senhor é Deus?"

Quando deixamos a luz em nós plantada pelo Espírito do Deus de graça e misericórdia brilhar em meio às trevas do egoísmo e maldade humanos que nos cerca, ela revela a origem que contrasta em essência e forma com o curso natural que marca as vidas com as quais esbarramos.

Mas a funcionalidade desse caráter, natureza cristã, testemunho, em outras palavras, exige alguns critérios que por analogia poderemos perceber no texto de Levítico 24 acima. Nesse texto, é possível pensarmos em nós mesmos como aquelas lâmpadas atreladas ao grande candelabro divino, que é o Senhor Jesus. Ele disse de Si mesmo: " Eu sou a luz do mundo".
Primeiramente, em Levítico 24:2 lemos sobre a alimentação das lâmpadas. A ordem dizia que as lâmpadas deveriam estar acesas continuamente ( como um farol que não pode apagar ). A alimentação dessas lâmpadas seria feita com azeite puro, batido. Dentro das figurações próprias à Tipologia bíblica, podemos entender como testemunho autêntico, e é Jesus quem nos mostra isso ao ensinar a parábola das dez virgens, em Mateus 25, quando alude às cinco imprudentes que não traziam azeite em suas lâmpadas e por isso, ainda que comprometidas com o noivo, ficaram fora das bodas por estarem despreparadas. Outro tanto, podemos entender o azeite como símbolo do Espírito Santo de Deus na manutenção e eficácia da vida cristã. Em outras palavras, o Espírito precisa estar atuante e não apagado em nosso devir, como o azeite alimentador da lâmpada. Isso fala de autenticidade de novo nascimento, natureza mudada e poder de Deus que torna o testemunho eficaz.

Depois temos no verso 3 do mesmo texto o serviço das lâmpadas. Elas teriam de brilhar do lado de fora. Exatamente como Jesus orientou quanto ao fulgor das nossas luzes: "diante dos homens, para que vejam..." Como também lembra Paulo ao dizer: "luzeiros no mundo". São lâmpadas postas a brilhar exatamente quando as trevas surgem - " da tarde até pela manhã". De acordo com o antigo sistema judaico das horas, das seis da tarde às seis da manhã. Nossa luz diante da resplandecente estrela da manhã, se ofusca, por mais brilhante que seja, por isso é diante dos homens, opacas luminosidades, e para eles, que deve brilhar. Sabemos de alguns que acabam tirando suas lâmpadas do velador, omitindo ou obscurecendo o testemunho, ou noutro extremo, fazendo parecer que a vida de Deus na qual crêem seja virtude pessoal adquirida.

Por último, vemos no verso 4 a posição das lâmpadas. Refiro-me agora à sua posição não de serviço, mas de base, localização a partir da qual emitem luz. Em termos de analogia isso aponta para origem e dependência. Segundo o texto referido as lâmpadas têm que estar no candelabro. É por meio dele que o azeite flui. Nosso candelabro é Jesus, como já foi dito, portanto somos lâmpadas atadas ao candelabro de tal forma que embora saia por elas a luz, o brilho é dele. Afinal, quem é visto é Ele, fazendo escoar Sua luz através de todas as lâmpadas. Por isso não pode haver lâmpada apagada nesse Candelabro.

Portanto, faz-se pertinente considerar aqui duas palavras finais:  nossa luz tem que brilhar! Jesus afirmou também: ...portanto, caso a luz que há em ti sejam trevas, que grandes trevas serão! -Mateus 6:23. Como o grande desconforto que se instala com o apagar repentino de um grande clarão.
E também: se você se sente apagando, luz bruxuleante, fraca, como um pavio apenas fumegante, no qual a luz não mais resplandece, é possível que falte oxigenação ou falte o fluir do azeite que alimentará a luz. Corra para Ele. Deixe-se encher do óleo do Espírito. Você ainda é lâmpada atada ao Candelabro. Lembre que o profeta disse que Ele, " não apagará o pavio que fumega"- Isaías 42:3. Ele ainda crê que pode acender de novo.


Pr. Cleber Alho.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Do comedor saiu comida, e do forte saiu doçura


Juízes 14:14.

Examinando o enigma de Sansão pela ótica do sobrenatural, ou mais propriamente, do transcendental divino, podemos decifrá-lo com um entendimento maior que a proposta incoerente daquele herói a seus inimigos filisteus.

O enigma de Sansão em linguagem espiritualizada constitui-se exatamente no teor da proposta de Deus ao homem decaído em seus pecados, pelo operar do Espírito Santo no seu ser. Mas também alcança vidas regeneradas cujo caráter requer quebrantamento e transformação.

Na verdade, não fôra o Espírito de Deus apossar-se de Sansão (v.6) sobremaneira, e não haveria motivação nem imagem alguma para seu célebre enigma.

Acreditava Sansão que jamais atinariam os seus inimigos com o fato por detrás das palavras, porque, não diferentemente da perplexidade que gera o operar divino na transformação de uma vida, é impossível ver o "comedor" provendo comida e o "forte" passar de si doçura, a não ser por uma operação direta de um poder maior que sua natureza inerente. Mas, o mesmo Espírito que agiu através de Sansão, hoje continua operando a mesma obra, que naquela ocasião Ele coreografou  através das mãos do herói. Ali pois, ficou em registro sobre a terra, a ilustração do mover irresistível do Espírito de Deus, transformador de naturezas decaídas.

Jesus, conversando com o principal dentre os mestres de Israel, Nicodemos, advertiu-o quanto à verdade fundamental do Evangelho: "Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus" (João 3:5). Sem ser " rasgado" pelo poder do Espírito Santo, o " comedor" vai permanecer imutavelmente comedor.

Conhecemos o caráter no mundo que se enquadra bem no perfil desta analogia do leão novo de Sansão: aqueles que vivem exclusivamente em função de si mesmos, natural e anormalmente egoístas. São "comedores"  como pais, patrões, cidadãos comuns. São os que vivem em busca de ganhar sempre a qualquer custo, colocando-se no centro da vida, aos quais devem os demais inclinar-se. Insensíveis para perceberem a necessidade alheia, só têm olhos para ver a sua própria, e, ou depreciam o sofrimento de terceiros, ou correm em busca de mitigar suas próprias dores antes de todos. Nem mesmo uma vez saciados colocam-se à disposição de algum resquício de preocupação externa a si. Até mesmo a religião é usada em função de seus interesses. Fecham-se em torno de suas famílias e bens e priorizam unicamente aquilo que lhes garanta benefício ou segurança pessoal. Asseguram-se todo o tempo do que podem ganhar, do que virão receber, mesmo que apenas atenção ou aplausos. E como perenes receptores, os "comedores" do enigma só cogitam das coisas desta vida. Os "comedores" jamais passam algo de si mesmos, de maneira que para que provejam comida, só pelo poder de Deus.

Mas se o "comedor"  for rasgado pelo Espírito Santo, de pronto ele morre para si mesmo e a partir daí uma colmeia de vida encontra espaço para crescer dentro dele.  É o exemplo que nos passa Zaqueu, o publicano, em Lucas 19:1-10. Quem era Zaqueu? Antes de ser rasgado pelo espírito de vida que lhe transmitiu Jesus, Zaqueu era um "comedor" nato, odiado por todo o seu povo. Era um "comedor" cruel e inútil contra o seu próprio povo a quem explorava a favor do governo opressor de Roma. Uma vez rasgado pelo Espírito, desse "comedor" saiu comida: "Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais." Foi tal a transformação imediata que Jesus alegrou-Se naquela salvação.

Só o Espírito de Deus faz sair comida dos comedores. Só Ele abre o coração cerrado pelo egoísmo e leva alguém a ver para além de si mesmo e assim vir a tornar-se um doador compassivo nas diversas áreas que as múltiplas necessidades apontam: bens, socorro, afetos, tempo, etc.

A capacidade de transformar naturezas é obra própria do Espírito de Deus. E se elas não mudam, isso é indicador claro de que não foram "rasgadas" por Ele. É Dele ainda o poder não menos extraordinário de tirar doçura do forte, conforme também o enigma assinala: " Doçura saiu do forte".

Forte, aqui entra pela analogia do endurecido, do bruto, intempestivo e rancoroso. Também conta o cruel, truculento. O amargo idem, e ainda o iracundo, esbravejador.  Como prever doçura em tais caráteres? Impossível, a não ser por ação divina. É necessário que um poder maior que o forte o rasgue, quebrante, para que ele venha a verter doçura.

No enigma, a doçura é a imagem perfeita desse quebrantar de cerviz endurecida, pois contrasta com a voracidade, com a luta, a resistência e o perigo. Contrasta com a ameaça e o risco; tudo o que um leão novo e feroz representava ao arremeter contra Sansão. A doçura é o total oposto desse quadro de propostas daninhas que atentam contra a vida e a paz.
E então entra a doçura como sabor, alimento, vida, em contraste eloquente com a imagem de ferocidade destrutiva.

Essa doçura saída do forte só foi possível após a destruição de suas bravatas quando rasgado pelo poder de Deus. Essa doçura brotou desde as entranhas, como a dizer que há doçura disponível sempre, em entranhas laceradas pelo Espírito do Alto. É um poder invisível e irresistível que atua e abre o coração mais duro e forte. Sob o poder de Deus morre todo o forte e em seu lugar nasce o fraco em cujas entranhas esse poder se aperfeiçoa. Temos a prova disso na vida de Saulo de Tarso. Rasgado pelo poder de Deus aquele forte fariseu converteu-se no Paulo que chorava pelos seus discípulos, apaixonado por seu Cristo e Senhor.

Quê cena mais bela pode haver que rugidos transformados em gemidos de quebrantamento e submissão? Quê milagre mais maravilhoso supera a mudança inconteste da ferocidade em saborosa brandura que brota do caráter rasgado? O bruto torna-se dócil, meigo, sob o poder de Deus, quando se deixa rasgar por Sua mão.

É ainda relevante considerar que o forte comedor foi rasgado pelas mãos de um homem ungido. Sansão foi o instrumento dessa transformação e desfrutou da bênção dela decorrente. Enfrentou o combate e oposição antes de vencer, mas obteve a vitória sob o poder de Deus. Ele ainda usa veículos humanos hoje como instrumentos eficazes, dispostos ao combate, para derrubar o valente e dominar o forte até que rasgado este se torne doador e provedor de doçura. As mãos de Sansão representam os instrumentos de quebrantamento de vidas, como oração e a Palavra que esquadrinha mentes e corações até a divisão de juntas e medulas, capaz de dividir pensamentos e intenção do coração como afirma Hebreus 4:12.

Ofereçamos a Deus nosso caráter indócil para que seja rasgado e transformado pelo poder do Seu Espírito. Então possa dizer de nós o mundo: "Do comedor saiu comida e doçura do forte".  Que se rasgue o nosso coração debaixo da glória de Deus no agir do Seu Espírito Santo, usando vidas ungidas na Palavra e na oração, para que vida doce e saciadora brote de dentro de nós e abençoe a muitos.


Pr. Cleber Alho.