Jesus dizia, pois,
aos judeus que criam nele: Se vocês permanecerem na minha palavra,
verdadeiramente serão meus discípulos; E conhecerão a
verdade, e a verdade os libertará.
Responderam-lhe:
Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Serão livres?
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade lhes digo que todo aquele que
comete pecado é servo do pecado. Ora o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica
para sempre. Se, pois, o Filho os libertar, verdadeiramente serão livres - João 8: 31-36.
Este é um dos textos
centrais da mensagem evangélica: "Conhecerão a verdade e ela os
libertará".
Ela tem pontos
relevantes, de significação marcante: foi declarada pelo próprio Senhor Jesus;
aponta para uma realidade e não para uma filosofia - a verdade que produz,
realiza, que faz algo acontecer; identifica esse algo: libertação; dá
pertinência a essa libertação: do pecado (v.34).
E assim, esta mensagem
evangélica recebe particularidades contra generalizações.
Temos então estes três
pontos relevantes a destacar nesta palavra:
1- De que verdade ela
fala?
Todas as palavras do
mundo têm a pretensão de serem a verdade ou a súmula dela. Desde os discursos
políticos aos dogmas religiosos, passando pelas máximas dos filósofos e teses
científicas. Isto estabelece uma questão: por que o ser humano tem tamanha
necessidade de assumir uma verdade? O que esse construto significa?
Talvez porque essa
necessidade fale de um norte a ser seguido. Aponta uma angústia psíquica e
espiritual quanto a achar o que é certo, encontrar o rumo, ter posse de
certezas. O ser humano tem necessidade de se encontrar, de achar seu próprio
caminho. Dá-se conta disso desde muito cedo. No início da vida assumimos como
verdade a verdade que o outro segue e dita, e não questionamos porque nos falta
meios para isso. É a verdade dos pais, professores, amigos. Depois nos
descobrimos perdidos, maioria das vezes.
Jesus põe fim a essa
angústia quando comunica que Ele próprio é a Verdade. Ele não é uma verdade,
mas a própria. Ele assume isso quando comunica que o Filho, como a Verdade,
opera a libertação. Sim, Ele é o Logos, séculos antes proclamado. Por isso
assumiu-Se como essa Verdade que liberta. E por ser verdade, estabelece esse
rumo buscado, libertando dos labirintos existenciais, como a palavra divina que
manifestou-se como princípio criador, em Gênesis, ditando fatos, criando
realidades.
2- De que libertação
ela fala?
É uma libertação ativa,
personalizada. Os ouvintes dEle ficaram confusos porque entendiam-se livres.
Personificavam a experiência humana geral: escravos sem o saber. Jesus disse:
"Vocês são escravos". Escravos do que não sabem: do pecado.
Escravidão silenciosa e
oculta. A pior delas: prisioneiros de SPA ou num SPA, como quem usufrui o que
lhe permitem mas não o que deve e pode ser. Semelhante a José, filho de Jacó,
nas cadeias de Faraó. Movia-se como um bem sucedido administrador dos presos,
mas o fazia sob cadeias. Seu lugar era no palácio do rei.
Como evangélicos
adquirimos o mau hábito de florear e condicionar essa libertação. Não é
libertação de doenças, da pobreza ou de opressões políticas. Nem é um
compromisso com questionáveis operações demoníacas, mas com o germe de tudo: o
pecado.
E então nos deparamos
com o alvo da libertação: o pecado.
3- De que pecado ela
fala?
Ouçamos Jesus: O pecado
que dita nossa maneira de viver (vv.34 e 35), ou seja, fora da casa do Pai e
dos Seus critérios, como não sendo filhos.
É como nos ilustra o
moço da parábola de Lucas 15:11, o filho jovem que saiu de casa. Sai de casa e
perde seu lugar de filho, porque presumia-se apto para gerir a própria vida e
supunha que seria livre fora da casa do pai. Em casa não se sabia livre e
julgou por liberdade o viver por sua própria conta, longe da presença do Pai,
fora dos limites. Afastou-se da fonte dos recursos existenciais. Só lá fora é
que se deu conta de que mesmo os que não eram filhos da casa estavam vivendo
melhor do que ele só por estarem próximos do seu pai.
O pecado como princípio
regente da vida, o princípio que a natureza humana rebelde cumpre, longe da
obediência à Verdade que nos ensina o lugar sob o teto e dependência do Pai.
Interessante perceber
que o homem se acha livre por viver sua própria verdade, e Jesus lhe faz saber
que ele está escravo dentro dela. O compromisso da Verdade Jesus é nos livrar
do engano do pecado.
Voltemos ao texto, no
seu início (v.31). Há como que um método para usufruir-se a libertação pela
Verdade. É preciso conhecê-la e o ponto de partida não é um dogma, pensamento
religioso ou atos de culto. Antes é estar firme na Palavra que nos transforma
em Seus aprendizes, discípulos. Os movimentos apontados por Jesus são
significativos e servem para bloquear dogmatizações: primeiro, ficar firme na
Palavra para sermos Seus discípulos, o que é por si só um segundo movimento.
Esses dois estabelecem um binômio: firmados na Palavra e ser discípulos. Então
daí resulta conhecer a Verdade. Este terceiro movimento fala de uma experiência
que ultrapassa em muito a idéia de saber a respeito de, ou tomar conhecimento
sobre, o que seria palmilhar em teorias religiosas. Mas intimismo, proximidade:
conhecer. Então daí resulta libertação, que é o fruto do arrependimento de ser
pecador: perdão.
Deus abençoe sua vida
de filho da liberdade.