segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O OBELISCO E A TORRE

Entre um obelisco e uma torre, basicamente a diferença é estabelecida pela aplicação. Dependendo do formato e altura, o obelisco pode lembrar uma torre e vice-versa. Às vezes dá para confundir. Porém, a diferença essencial é vista no aplicativo: o obelisco serve como marco histórico, símbolo de honra, memorial. A torre, e me refiro às históricas, sempre esteve ligada à idéia de defesa, mais comum no mundo antigo por ser o local mais elevado que servia como ponto de vigilância sobre muralhas para defesa das cidadelas. Hoje constroem-se arranha-céus com o título de torre porque serve de homenagem à empresa que os construiu.

Em Gênesis 11, encontramos o relato da pretensão humana de construir uma torre que lhes fosse por obelisco. A Torre de Babel, construída na planície de Sinear, tanto atendia ao propósito de ser um memorial de registro do poderio humano, como uma torre de vigia quanto aos atos de Deus. Seus construtores pensaram: "Ergamos uma torre tão alta que toque o céu". Deus destruiu a torre dos homens infundindo-lhes perturbações cognitivas. Sem se entenderem mutuamente, dispersaram-se por toda a terra, na direção inversa do seu propósito que era tornarem-se independentes de Deus, centralizados em torno de si mesmos, autossuficientes. E ao mesmo tempo, na dispersão, atenderam ao propósito divino estabelecido nos primórdios: Povoem a terra! Sempre o intento divino correu nessa direção: Todos! Não só vocês! Espalhem-se, distribuam-se! Doem-se!

O pensamento humano não mudou muito desde então. Há uma tendência inata ao homem, filho de Adão, quanto a precaver-se, garantir-se, reservar-se, sempre fazendo tudo em torno de si e dos seus. Os outros são excluídos.

Deus vira a página da história, literalmente a narrativa do capítulo 11 do Gênesis para o 12, com o chamado de Abraão, a quem desafia a independer de si e dos seus, contrariando a direção carnal da vontade humana em Gênesis 11, para depender dEle integralmente e assim, construir sua bênção na direção de "todas as famílias da terra". E nesse propósito Abraão estaria erguendo seu obelisco, o memorial de ser uma bênção, em lugar da torre do egoísmo, ganância e particularidade.

Penso que em todas as épocas e lugares os homens continuam a construir suas Torres a partir de promitentes obeliscos. Torres da vaidade, soberba, para fazer-lhes nome na terra. Mesmo na Igreja, na construção de alguns ministérios é notório o fato de que os homens começam com o obelisco, o memorial que aponta para Deus, e logo o transformam em torre que reduz a proposta na fama, no louvor do próprio nome. Em alguns segmentos da fé cristã isso é ainda mais visível, como na mídia evangélica com o apodo de "gospel". Vemos as torres da fama sendo descaradamente "santificadas" no intento de serem testemunho de vidas abençoadas, por conta de terem sido bem sucedidas (especialmente em papel-moeda).

Mas, no geral, o obelisco da busca da bênção começa sempre a ser forjado no investimento pessoal em orações, cultos, reuniões, participações e realizações cúlticas que parecem atestar uma espiritualidade em alta. Nem bem começam resultados pretendidos e o "adorador" transforma o obelisco da bênção (via de regra de escopo material, secular) em torre de apropriação de independência e garantia pessoal.

Penso também se não estaria ainda hoje Deus "desconstruindo" essas torres nas vidas dos que as levantam para si mesmos.

Examinando a História na antigüidade é fácil perceber que desde os eventos de Gênesis11 Ele continua "descendo e confundindo" os construtores de torres, as torres da soberba pessoal e coletiva. É fácil também dar-se conta de que cada torre erguida pela pretensão humana de independer-se de Deus será derrubada a seu tempo. É só uma questão de tempo. E dou-me conta de que o processo é sempre o mesmo: a confusão do cognitivo. E o homem se esvazia na fé.

O que você está erguendo a partir de sua vida? Obelisco ou torre? Em que direção e a favor de quem está levando sua vida? É como você obtém sua resposta.

Pr. Cleber Alho

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

CRESCER OU ANIQUILAR-SE



Muito antes da confissão evangélica ser invadida pelos pressupostos da teologia da prosperidade, uma tendência à distorção, na esteira da qual a heresia se imiscuiu, já se fazia perceber a partir do condicionamento imposto aos crentes por muitos púlpitos que insistiam em reduzir o senso de adoração e busca de Deus aos possíveis favores divinos. Descer da posição de adorador para negociador foi fácil.

Hoje, num cenário em que nossa confissão bastante desprovida de sua genuinidade permitiu-se receber as lentes que reduzem a adoração a atos petitórios e de barganhas com Deus, que O destronam para ficar atrás dos balcões dos desejos e exigência confessionais, é fácil perceber a distinção entre o religioso e o adorador. Como a profecia, por seu próprio caráter, se antecipa a todo cenário, é nela que podemos (re)-aprender o discernimento dessa distinção. Nela destacam-se dois perfis. Vamos avaliá-los e convido você a fazer as conclusões concernentes.

Refiro-me à história de duas mulheres importantes na economia divina quanto à gênese da encarnação do Messias: Noemi e Rute. Lendo o curto e objetivo livro histórico, vemos o desenrolar dos padrões característicos da confissão que estabelece nítida distinção entre as duas, ao mesmo tempo em que as assemelha aos descendentes espirituais dessa história.

Houve uma tragédia vitimando aquela família. Elimeleque, acompanhado de seus dois filhos viaja para a região gentílica, Moabe, com sua esposa Noemi, porque um flagelo havia vitimado sua terra e povo. Em busca da sobrevivência tornam-se os retirantes em terra alheia. Ele morreu ali, pouco tempo depois. Seus dois filhos se casaram com mulheres da terra: Órfa e Rute, mas também vieram a morrer dez anos depois que ali se instalaram e isso antes de darem netos a Noemi. Ao rever sua triste sina, Noemi conclui: ...a mão do Senhor voltou-se contra mim! E disse mais: Não me chamem Noemi (agradável), melhor que me chamem de Mara(amarga), pois o Todo-poderoso tornou minha vida muito amarga! De mãos cheias eu parti, mas de mãos vazias o Senhor me trouxe de volta. Por que me chamam Noemi? O Senhor colocou-se contra mim! O Todo-poderoso me trouxe desgraça!

E aí foi inaugurada, via a teologia desagradável de uma mulher amarga, a confissão que estabeleceu a premissa distorcida: Se Deus não é por mim, é contra mim. Não só. Aí também foi estabelecida a confissão que determinava: “Ele só é Deus quando me favorece”. Ou pior: “Só entendo dEle quanto a benesses e favores”.

Essa confissão é transmitida a duas discípulas em potencial: Órfa e Rute. O texto de Rute 1: 11-15 revela que Noemi sugeriu o deus da terra como opção viável para as duas discípulas. Ainda insistiu com Rute que atendesse à decisão da concunhada que optou por voltar para o seu deus. Estaria Noemi fazendo uma confissão velada dessa mesma troca? Seria seu plano B caso o retorno para Efrata não desse em coisa boa? Muitos séculos depois ouvimos do seu santo e divino descendente: A boca fala do que está cheio o coração.

Apesar desse testemunho equivocado a respeito de um Deus que parecia caprichoso, temperamental e pouco acessível, Rute desponta com uma confissão que não apenas contraria o conselho de sua discipuladora, mas o ultrapassa em grandeza. Ao dizer à sua sogra: O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus, Rute nos faz pensar: O que a teria levado a insistir, contrariando o conselho de sua sogra, em buscar um Deus apresentado sem nenhum atrativo, pelo contrário, perigoso e injustificadamente punitivo segundo aquela confissão? Ou seu marido a discipulou com um credo que contrariava a ótica confessional de sua própria mãe, e ela teria aprendido a conhecer esse Deus por intermédio dele, ou ela conseguiu vê-Lo acima e melhor que o retrato que dele o “púlpito” doméstico fez. A verdade é que Rute decide-se por buscar esse Deus de Israel apesar das prerrogativas negativas sobre Ele apresentadas. Algo do tipo: “Ruim com Ele, pior sem Ele”. Ou ainda: “Ele, e só Ele, quer faça ou deixe de fazer”. Nesse momento, a confissão de Rute, a gentia, nos aponta o embrião confessional de uma igreja seguidora, do padrão confessional de uma Marta, um Pedro e um Jó, que afirmaram sua confiança e o querer seu Deus num contexto de tragédia e frustrações pessoais de grande monta ( Cf. João 11; 6:68 e Jó 2:10). Mais para a frente, vemos num jogo de palavras entre Boaz e Rute a reafirmação de que ela optou decididamente por viver dentro das fronteiras do Deus do povo de seu falecido marido ( Cf. 2: 11 e 12).

Mas, o que devemos aprender em tudo isso? Eis a oportunidade que continuamente se repete na história dos crentes em Jesus, para assumirem a posição de adoradores! Todo aquele que não ultrapassa o limiar de uma visão que, em meio às fatalidades da vida, faculta-lhe a opção de adorar seu Deus, se aniquila numa confissão reduzida que despreza a soberania divina a favor de favoritismo temporal. Reduz-se a um confessor que se entende com “direitos” justificados sobre Deus e os atos de Sua vontade.

Ou cresce, ultrapassa o limiar para, em meio às vicissitudes assumir: “Eu O quero; Eu O adoro”. Porque assume que o compromisso do Deus revelado em Jesus não O reduz a facilitador existencial por vias temporais ou interrupções de crises existenciais que transitam as vias da provação.

Podem crer que o Senhor está comigo e por isso é Deus num mundo em que terei aflições. Ficar aquém da oportunidade de confessá-Lo como Deus a despeito das dores e mágoas é comprometer-se a sucumbir ao desamparo e desespero dos que, longe de crescer na graça por aprender que enquanto sou fraco é que sou forte, exigem a retirada do espinho, e se Deus insiste em permitir o espinho, O amaldiçoam com sentimentos, palavras e atitudes.

O crente Noemi sempre verá em Deus uma dicotomia, uma cisão entre o bom e o mau. Psicotiza.

O crente Rute cresce quando em meio a dor, em lugar de se aniquilar e se ver perseguido, desamparado e maltratado, vai querê-Lo e confessá-Lo como o fez Jó: Sem dúvida, ó Deus, Tu me esgotaste as forças; deste fim a toda a minha família. Tu me deixaste deprimido... Eu estava tranqüilo, mas Ele me arrebentou; agarrou-me pelo pescoço e esmagou-me. Fez de mim o Seu alvo... Apesar disso, concluiu e confessou: Saibam que agora mesmo a minha testemunha está nos céus; nas alturas está o meu advogado. O meu intercessor é meu amigo, quando diante de Deus correm lágrimas dos meus olhos; ele defende a causa do homem perante Deus, como quem defende a causa de um amigo – Jó 16: 7-9; 19-21. Assombra que, em meio a tudo isso, esse servo de Deus teria declarado:  Embora Ele me mate, ainda assim esperarei nEle- Jó 13:15.

                                   No temor dEle,
                                                           Pr. Cleber Alho   

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

QUEM FAZ A SUA CABEÇA?



Nosso texto, para buscarmos o sentido de advertência dessa pergunta, se encontra em Juízes 16 que narra a história do herói Sansão, tão conhecido nosso até mesmo pelos apelativos cinematográficos que oscilaram em torno de sua epopéia.
Mas o que nos cabe nesta história é o tanto de comum que há entre nós, crentes em Cristo, e o herói, quase antiherói bíblico.

À parte o fato de ser ele o homem de Deus mais carnal de já se ouviu falar, dominado por suas paixões e temperamento explosivo,  alguns pontos que o distinguiam nos pertencem também: ele era impelido pelo Espírito de Deus, como revelam Juízes 13:25 e 14:6. Nós não o podemos ser menos, conforme disse Jesus em João 3:8 acerca de todo aquele que é nascido do Espírito. Outro tanto Paulo afirma em Romanos 8:9 que nós não estamos sob o domínio da carne, mas do Espírito... Também porque havia uma aliança entre Sansão e Deus. Mas a semelhança deve acabar aqui, porque o que passa disso não pode nem deve ser achado em nós. E refiro-me à triste lição que a história desse antiherói nos passa e que serve como advertência para todos nós. Alguém fez a cabeça de Sansão, com seu consentimento. Ou seja, Sansão colocou sua cabeça em lugar indevido: no colo do inimigo. Isto foi um movimento gradativo, como mostram Juízes 16:13 e 16. Assim, chegou o momento em que entre Sansão e Deus houve uma Dalila. Isto é sério.

A Bíblia nos diz o que deve ocupar nossa mente, ou, fazer nossa cabeça: Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.- Filipenses 4: 6-8. Por que? Porque o que ocupa nossa mente, estabelece nosso vigor, visão e comportamento (resposta). O motivo, o desejo, cria nossa visão. Basta pensarmos no desejo como nossa força, motivação, poder.
A visão determina nossa liberdade.
Foi tudo quanto Sansão perdeu.
Começou por perder o poder, conforme Juízes 16:19 expõe: Fazendo-o dormir no seu colo, ela chamou um homem para cortar as sete tranças do cabelo dele, e assim começou a subjugá-lo. E a sua força o deixou. E nem se deu conta. Isto também pode ocorrer ao crente, dependendo do que permitimos que ocupe o nosso pensamento.  Daí a advertência de Paulo: As más companhias pervertem o bom comportamento. E o resultado sai conforme adverte Efésios 4:30 : Não entristeçam o Espírito Santo de Deus... ou, conforme I Tessalonicenses 5:19: Não apaguem o Espírito... O que entrar, sairá apresentando seus resultados. Jesus disse que a boca fala do que está cheio o coração, e então cumpre-se outra máxima Sua em que Ele diz que o que contamina o homem é o que sai por sua boca.

Depois de perder a força, Sansão perdeu a visão. Lembram? Juízes 16:21-  Os filisteus... furaram os seus olhos... Triste! Mas significativo. O inimigo o cegou. A mente ocupada ou contaminada já é um indício de cegueira.
Satanás usa o mundo e seus conceitos para cegar. Está escrito: O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos para que não vejam a luz do Evangelho – II Coríntios 4:4.
A primeira coisa que esta cegueira faz é perda de percepção do Evangelho. A cegueira espiritual tira a capacidade de ver o poder, a autoridade e a santidade da Palavra de Deus. E, como disse Salomão: Sem visão o povo fica sem freio. Quem não pode ver, não sabe para onde está indo.
A conseqüência imediata da perda da visão é a perda da liberdade, como, na seqüência, mostra o v.21: Prenderam-no com algemas de bronze, e o puseram a girar um moinho na prisão.
Foi reduzido a um animal de carga e sob sofrimento. Jesus deixou claro: Vocês conhecerão a verdade e a verdade os libertará. Paulo afirmou: Vocês foram chamados à liberdade.
Alguém cuja cabeça deitou-se no colo do inimigo perde, por fim, a liberdade da vida espiritual em Cristo. E pode existir um crente desprovido da liberdade para a qual foi chamado?  Bem, não consigo ver vida de liberdade no cristão que continuamente se manifesta:
                                               sob cadeias de culpas;
                                               cadeias de superstição espiritual;
                                               fobias do mundo espiritual;
                                               cheio de enigmas;
                                               escravo de medo dos demônios e poderes das trevas.

A liberdade de filhos nos faz leves, soltos, com autoridade, plenos de alegria.

Tudo começa com o lugar onde reclinamos nossa cabeça. Ou agimos como Sansão, ou como João, que reclinou a cabeça sobre o peito do Mestre.

Onde você busca descanso, conforto, prazer? Quais são as preferências de sua comunhão, suas amizades? Quem está fazendo sua cabeça?

                                   Com um abraço,
                                                                       Pr. Cleber Alho

terça-feira, 2 de outubro de 2012

CAPELÃES DE CRISTO



I Reis 11: 30 e 31.

            Capelão é termo religioso, muito comum hoje, designativo do religioso que presta assistência espiritual em hospitais, prisões ou outros lugares públicos, função notadamente exercida por padres, pastores ou rabinos. Tive o privilégio de receber essa titulação como ministro convidado da Igreja Católica há 22 anos passados, para prestar assistência aos enfermos do Hospital das Clínicas da Unicamp. Naquela ocasião era quase divertido ser confundido pelos doentes como um sacerdote católico, e a diferença maior residia que no meu caso, em lugar dos sacramentos, eu lhes ministrava a Bíblia e a oração feita em nome do Senhor Jesus. Louvo a Deus pela grata compensação em ter apontado o Caminho da vida eterna a alguns que estavam no limiar de partir desta vida. Usei a honra do título com reverência, na ocasião.
            O termo deriva de capela, ou capa pequena, tendo como fundo histórico a vida de Martim de Tours, que tornou-se monge após um ato misericordioso em que abriu mão de sua capa para cobrir um pedinte, e a partir daí, desproveu-se de todos os seus bens para dedicar-se a uma vida de contemplação espiritual.
            O ato de exercer capelania, viria, por extensão, significar o serviço de desprendimento de recursos espirituais da parte de alguém a favor de outrem. Em outras palavras, seria o serviço sacerdotal do crente em Jesus, a favor de todos os homens, como intercessor ou anunciador do Evangelho.
            Nesta tarefa nobre e gloriosa de compartilhar as verdades eternas com aquele que está desprovido da glória de Deus (Romanos 3:23), somos capelães do Senhor Jesus, a favor de todos os homens. A expressão tem beleza, mas, mais que isso, implica em sério compromisso. Para sermos fiéis à terminologia encerrada na palavra, este serviço deveria custar-nos a capa.
            E capa, e a honra que lhe é conferida, têm relevância escriturística, desde a Lei, que proibia a um credor levar a capa de um endividado, sob risco de penalidades, caso não a devolvesse ao fim do dia, para que não dormisse sem ela.
            Elias, de certa forma, foi um capelão para Eliseu (Cf. II Reis 2: 13 e 14). Também Aías, para entregar um recado profético ao futuro rei Jeroboão, rasgou sua capa em 12 pedaços.
            Fico pensando nesses vasos de Deus que precederam Martim de Tours, muitos séculos. O serviço do Reino custou-lhes desprover-se de suas capas para capacitar outros, ou mesmo para pregar uma mensagem divina.
            Penso em modernos capelães, como Florence Nothingale, Rosalee Appleby, Tereza de Calcutá, George Müller. Sei de outros incógnitos, abrindo mão de suas capas, em nossa geração, algures.
            Será que nós, estes sacerdotes de Cristo, conforme estabelece o Evangelho   (I Pedro 2:9; Apocalipse 5:10) estamos prontos a ir ao extremo de abrir mão de nossa cobertura, segurança pessoal, particularidades, individualidades, para que outros sejam cobertos (alcançados)? O que representa a capa para você? Para ser um sacerdócio real, estaria você disposto(a) a rasgar ou doar sua capa, como Elias e Aias fizeram? Note bem: a capa, via de regra, estava identificada com a personalidade do seu dono. Ele, de certa forma, estava nela. Ao passá-la a outros, movido pela necessidade desses outros, ele estava se dando aí. Cobrir alguém com a própria capa, como fez Boaz a Rute, também significava trazer para junto de si, oferecendo mais que abrigo, aliança, parte em si mesmo.

                                   Deus o(a) fortaleça.
                                   Pastor Cleber

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

ESPERANÇA EM MEIO AO DESESPERO - Apocalipse 5.

Este é o nosso texto. Leia-o, por favor.

Ele traz particularidades interessantes: é um parêntese na profecia, que introduz o conteúdo dela a ser desenrolado do capítulo 7 ao 22 do livro.
É uma preparação espiritual dos leitores do livro-carta para a comunicação trágica que virá.
Fala de uma visão do interior do céu, começada no capítulo 4. Bendita visão! Há um trono na posição mais sublime, acima do kosmos, que não está vazio!
Um episódio incomum e revelador ocorre: o ocupante do trono tem na mão direita um livro no lugar de cetro; um livro que precisa ser aberto, mas está selado. Os sete selos apontam para o caráter totalizador desse impedimento. O que se lê em Apocalipse a partir da abertura dos selos, é o desfecho da história da humanidade a partir da cruz! E até que Jesus retorne, consumando a História.
Logo, quem pode abrir o livro? Sua abertura implica na condução e controle dos fatos que ele narra! Logo, quem o pode abrir, será responsável pela condução de sua história!
Mas dissemos que este capítulo nos prepara para a comunicação trágica que virá. De fato, um sucedâneo de fatalidades, de acontecimentos funestos, pragas que mais parecem maldições: narrativa de guerras, genocídios, pestilência, fome, catástrofes sísmicas sem precedentes e corrupção espiritual e moral devastadora.

Estamos sendo bombardeados com ocorrências de nuances apocalípticas. Catástrofes sísmicas contínuas e cada vez maiores, que mais e mais aproximam-se de antigas zonas de conforto; e fatalidades cósmicas preocupantes, a começar pelo desconforto do super aquecimento do planeta. São eventos futuristas, que já estão entre nós. Se formos insensíveis a eles, e indiferentes quanto a relacioná-los e quanto a contextualizá-los na Profecia, não seremos crentes em Cristo e na Sua Palavra.
Nossa realidade aponta para o fato de que as coisas não correm para melhor! Há vislumbres de desespero na História. Já ouvimos vozes de uma História desesperada, a começar pelo colapso financeiro mundial que corre célere, costurado aqui e ali mas de um fim inevitável para mais breve do que se pensa. Os homens lêem a História sem um propósito, sem um objetivo final, logo, desespero.
Qual é o nosso lugar e reação neste contexto, como cristãos? É onde entra a mensagem de Apocalipse 5, como a nos dizer: saibam, há Um Que é Digno de conduzir essa História, e vocês têm comunhão com Ele; vocês O conhecem!
E como para trazer-nos consolo e esperança, o texto dilata nossa visão dEle, por meio da visão de João.
Nossa esperança está nAquele que é Digno para conduzir a História em meio ao caos. Precisamos nos dar conta de quão Digno Ele é! Podemos descansar no fato de que Ele é Digno por ser o Messias da História de Deus com os homens, o Homem da Profecia visto na Sua divindade como:
O Leão da Tribo de Judá.
O livro que conduz nossa história está nas mãos dAquele que veio para ser Messias: o Rei, o Soberano. Esta é a linguagem que remonta a Gênesis 49, a profecia de Jacó sobre seu filho Judá  (Gn. 49: 9 e 10).
A metáfora fala de soberania e pertinência, ou seja, o messianato dAquele que viria para reger - Jesus nunca negou que veio para reinar.
O principado está sobre os Seus ombros. O cântico dos anciãos, aqui, deixa claro que Ele reinará com um povo que constitui Seu Reino. A Igreja é esse povo! Logo, o caos que se instala, está sob os olhos de Sua onisciência. Não estamos entregues à sorte do caos, mas sob o compromisso dAquele que conhece o caos, porque tem domínio sobre a História dos homens e nos comprometeu com Seu compromisso!
Como Leão de Judá, a metáfora O aponta como Aquele que cuida do Seu povo. A verdade que é geral, tem de o ser no particular: Cristo cuida da Igreja. Você e eu, como igreja, estamos sob Sua guarda e cuidado!
Ele é digno porque pode ser visto como:
A Raiz de Davi
Alude à profecia de Isaías 11: 1-4. Para nós fala não de Sua realeza apenas, mas de Sua encarnação, humanização e identificação conosco.
Este é o diferencial da esperança messiânica do judaísmo que não consegue ver no Messias um ser tão humano que sofre ultraje. Mas Ele é para nós o Servo de Isaías 53, Aquele com Quem podemos nos identificar! Tão humano quanto foi Davi, e tão rei e homem como ele foi! O cetro da História está nas mãos de Quem sabe o que é vida terrena, conhece suas aspirações, sonhos, frustrações e fracassos.
A própria idéia: raiz de Davi, fala de um broto que renasce de um tronco cortado, para falar de recomeço, de restauração, de superação.
O condutor de nossa história entende disto, logo, também por isso, nossa visão é de esperança, em meio ao desespero da História.
É interessante, no entanto, salientar que as duas metáforas são apontadas no discurso de um dos 24 anciãos, aqui, a Igreja representada pelos que estão no céu, a Igreja triunfante. Ela O vê como o Rei e Messias que venceu!
Em seguida, temos a terceira metáfora, que é, na verdade, o esteio, a base da dignidade proclamada do Messias para conduzir a História, e esta, na visão da Igreja na terra, militante e sofredora, representada por João (Ap. 5:6). Ele vê nEle:
O Cordeiro que foi morto, mas que está de pé!
E então percebe-se que toda a dignidade dEle consiste nisto: morreu como homem que venceu a queda da humanidade; morreu pelos homens, como homem resgatador, oferta, Cordeiro de Deus.
É a visão que a Igreja jamais poderá perder dEle: o resgatador, Aquele que a comprou com Seu sangue!
Ele determinou assim: Em memória de Mim, comam o pão, como Meu corpo e bebam do cálice, como meu sangue.
João O vê como cordeiro; eu e você precisamos manter viva esta visão: Ele é o remidor mais chegado. Venceu como o Redentor, e nós precisamos em meio às turbulências manter viva a consciência de nossa redenção que nos dá segurança.
Estamos sob o cuidado dAquele que pagou nossa dívida para com Deus, e portanto para onde corra o caos, expressão da ira de Deus contra o pecado do mundo, estamos sossegados de que em meio a tudo, temos o sangue de nossa redenção sob o qual estamos protegidos.
Não importa a quantas vá a História de nossos dias, nem o quanto convulsione. Inseridos nela, ocupamos um lugar de esperança e sossego, por sabermos que ela não está correndo ao bel prazer dos que a ditam, na política ou na religião, mas sob a onisciência, onipresença e onipotência dAquele que para nós é Guardião, Identificação e Redenção e nessa qualidade conduz a História dos homens na terra. Amem.