quinta-feira, 30 de abril de 2015

SE EU PUDESSE VOLTAR AOS 16 ANOS

Quando eu tinha 16 anos de idade, chegou-me às mãos um folheto de avivamento espiritual escrito por dona Rosalee Appleby, por ocasião dos seus 65 anos de idade. Aquele foi meu primeiro contato via literatura com aquela honrada serva de Deus, da outra América, que realizou uma obra de despertamento espiritual no Brasil por longos 35 anos, até meados da década de 1960. Tive o privilégio de me corresponder com ela até seus 88 anos de idade. Ela partiu para o Senhor no ano de 1991 com mais de noventa anos. Através de seus livros, folhetos e suas cartas pessoais que tanto me honraram, deixou-me marcas indeléveis.

Lembro que na mensagem do folheto em questão ela pensava sobre o que procuraria fazer se tivesse de novo a posse de sua adolescência, e as coisas que evitaria.

Entrando este mês nos 60 anos de idade, eu me lembrei do menino de 16, para quem a possibilidade da idade adulta que já era um desafio difícil de imaginar, fazia  da maturidade avançada algo inconcebível. E pensando naquele adolescente-menino-franzino, agora aos 60, sentí desejo de, à semelhança de minha inesquecível amiga, revê-lo nos 16, considerando o que lhe diria, se houvesse a possibilidade dessa volta no tempo para chegar-lhe ao pé do ouvido. O que lhe diria o ancião por ele inimaginável?  Este seria um diálogo possível de acontecer:

__ Estou muito feliz por você ter sido encontrado pelo Evangelho ainda tão moço.

__Eu mais ainda... Ele diria – É muito bom ser crente! Não sabia que podia ser tão bom! Nunca fui tão feliz, nem jamais viví o que tenho vivido agora. Estou animado com a vida, desejando viver mais e ir além.
__Você irá. Você vai viver mais, e muito. De onde estou, posso lhe dizer que você vai viver muito mais.
__E será sempre bom assim? Sempre essa alegria e entusiasmo? Nunca sentí nada sequer próximo a isso, antes.

__Haverá dores, lágrimas, aturdimento, sustos, abatimentos, mas muita alegria, muitas surpresas felizes e muito entusiasmo também, sim.

__ O que quero dizer é que a comunhão com Cristo e a paz da vida eterna me deixam muito entusiasmado. De fato eu sinto alegria de viver. Eu não tinha nada disso antes.

__Eu sei. E sei mais: isso é só o princípio.

__Há mais?

__Muito mais.

__Vou sentir saudades destes dias? Vou querer voltar a eles?

__Não. Não haverá tempo para querer nada daí, em face do muito que virá. É importante manter essa chama acesa, o que será sempre difícil, mas você não poderá ficar sempre nessa zona de conforto espiritual. Agora é só o início. É bom, mas falta crescer, amadurecer, sair do âmbito do só emocional e diferente. Há que aprofundar, criar raízes, e elas não virão com alegria, prazer, entusiasmo. Mas com lutas, provações, decepções às vezes e alguns sustos. Mas em cada transe, haverá delícias e descobertas com Ele. A maior delas, que nunca vai cessar de se renovar sempre, é descobrir que Ele conduz tudo, tudo realiza e tudo tem sob Seu completo controle.

__Então vai ser moleza!

__Não vai ser não. Vai ser duro, difícil, e às vezes triste. Nos aturdimentos surgirão questões do tipo: “Será que Ele esqueceu?” Onde me atrapalhei? Por onde foi que errei?” E depois lágrimas de alívio, no socorro e descoberta de que lá embaixo, Ele estava também. “Também ali estava a Sua mão”.  Muito cedo você vai descobrir que há um caminho regado de lágrimas, mas a maior descoberta será saber que são lágrimas vertidas com Ele, e algumas vezes por Ele e para Ele. Então você dirá: “Isso é bom!”

__E tem certeza de que não vou preferir este momento agora?

__O que você tem agora?

__Além da alegria da salvação? Ah! Tenho a igreja, os irmãos, uma nova família, gente que me ama de verdade, com quem é bom estar sempre. Sempre novidades, coisas novas para aprender e experimentar, especialmente nos encontros, acampamentos, reuniões. Cada vez que aparece um homem ou uma mulher de Deus, aprendo coisas que jamais imaginei que Deus tivesse para mim.  Não vai ser sempre assim?

__Sempre haverá coisas novas a aprender e viver. Isso não vai cessar nunca. Mas a alegria de ser amado, as novidades com a igreja, nos encontros, reuniões... isso algumas vezes vai ser bem diferente...

__Então vou ter saudades deste tempo.

__Não vai, não. Porque tudo vai compor a carreira e o crescimento. Tudo será investimento para crescer e levar você cada vez para mais perto Dele, para se envolver ainda mais com Ele e encontrar satisfação apenas nEle. Um dia você verá que quase caminha sem ninguém. Mas o Grande Companheiro...

__Ah! Isso eu sei! Como Ele é meu companheiro!

__Isso se tornará mais intenso, cada vez mais. Será a grande descoberta de sua nova vida. A comunhão com o Emanuel de Deus, o Deus junto, o Companheiro de toda a jornada.

__Então vai ser bom! Você diz que Ele será mais companheiro do que é hoje?

__Não. Eu digo que você se tornará mais sensível à companhia dEle do que agora. Ele será sempre o Grande Companheiro, tanto lá quanto agora. Você crescerá nessa busca e então, sim, não terá saudades de agora, porque agora você está apenas no começo da caminhada onde se vê obscuramente, como por espelho, conforme nos ensinou Paulo, apóstolo. Mas conforme passam os anos, e vêm as lutas, desafios, e aumenta a dependência nEle e dEle, você vai enxergando mais, apercebendo-se melhor, como diz o texto: “...a vereda que vai brilhando cada vez mais até chegar a ser dia perfeito”. Posso lhe assegurar: Quando você chegar aos 60, não vai querer mais ser o menino de 16 que é hoje.  Vai olhar para trás, e ver quão grande foi a luta, quanta perplexidade, quantas angústias e decepções consigo mesmo, por conta do pecado; mas também quanto Ele conduziu, criou, fez. Abriu ruas onde só havia um mar; sussurrou coragem quando o coração desmaiava, e no choro da noite, falou, muitas e muitas vezes: “Eu estou contigo, vá em frente, continua, marcha!” E você dirá por fim, a Ele, ao pé do Seu ouvido: “Tem sido bom, Senhor, andar Contigo. Chorar contigo; sorrir Contigo e esperar em Ti. Tem sido boa a companhia e o conduzir. Foi bom pouco saber, às vezes nada entender, e perceber por fim que eras Tu, e o fim sempre provando a têmpera da Tua vontade: boa, agradável e perfeita. Quantas vezes assustado, confuso e desanimado, mas sempre surpreendido pelo agir de Tua mão. “

Então você entenderá que o menino que é hoje, continuará dentro do homem de 60, mas mais confiante, mais experimentado, surpreendido na fé, vezes sem conta. Desafiado. Por isso posso lhe assegurar: De minha parte, esse menino aqui dentro hoje pode dizer: “Vamos em frente. Muita terra ainda ficou por conquistar. E quero avançar porque tenho aprendido que Tu ditas o caminho, a “Terra que me mostrarás”.  E o homem aí dentro, menino, querendo amadurecer, pode dizer: “Leva-me Tu, correrei após Ti”.

Um dia. Ah! Um dia, nós dois: o menino e o ancião ( porque você sempre estará dentro de mim, com sua sede, paixão e sonhos), diremos: “Combatí o bom combate; acabei a carreira, guardei a fé”. E veremos por fim o cumprimento da Palavra Fiel que promete: “E tal como Ele é nós seremos, porque O conheceremos tal como somos conhecidos”.


Se eu pudesse voltar aos 16 anos, diria ao menino-adolescente: “Avança sempre! Ele sempre será mais!”

terça-feira, 7 de abril de 2015

CORDAS HUMANAS

Nosso texto é Oséias 11:4 - atraí-os com cordas humanas, com laços de amor...

Fico pensando no pensamento de Deus me vendo como corda humana.

Fico pensando no meu pensamento me vendo como corda humana no pensamento de Deus.

Não cabe a pergunta: de que lado da corda estou, se sou corda. Porque ela é o instrumento de Deus para puxar, atrair.

Mas se o texto do pensamento de Deus em Oséias 11:4 for visto sob a ótica  de nossa natureza decaída, não nos veremos como corda mas como o objeto puxado, atraído.

Prefiro me pensar como corda. Um dia fui puxado como objeto atraído por cordas humanas nas mãos de Deus. As cordas eram somente cordas. Mas estavam nas mãos divinas. Estavam na terra, mas seguradas pelo céu, desde o céu. O que contava era para Quem me puxavam. Melhor: contava o fato de que Quem puxava era Deus, e então uma surpresa: tanto a corda que segura quanto o objeto amarrado, estão sendo atraídos pelas mãos Dele, para junto Dele.

Hoje prefiro ser corda em Suas mãos. O texto continua para dizer que Ele as vê como laços de amor. É bem verdade que minha vida ainda está atrelada a cordas humanas, cordas de apoio, de sustentação ministerial.

Um dia lançaram Jeremias, profeta, no fundo de um fosso cheio de lama, onde ficou atolado. Ia morrer. Alguns homens piedosos serviram-se de cordas e puxaram o profeta de volta à superfície da vida e liberdade. Creio que Jeremias nunca mais conseguiu olhar uma corda com os olhos de antes. Elas devem ter passado a figurar para ele instrumentos benditos, de visão aprazível.

De que lado do pensamento de Deus você quer estar? No extremo distal que a corda segura ou no proximal segurado pelas mãos Dele? A corda, não o objeto, é que está nas mãos de Deus, segura desde o céu. Se você é corda, a quem está segurando para Ele?

Deus abençoe sua vida

sábado, 4 de abril de 2015

O CRENTE NO ESPELHO

Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois O veremos como Ele é. I João 3:2.

Esta proclamação joanina deveria reverberar no coração crente com um eco indissipável para cada dia do ano, cada ano.

O Evangelho de Jesus nos aponta que traremos a  imagem do Celestial, referindo-se ao Senhor e comunicando-nos seu supremo propósito: perdoados e remidos para sermos transformados em Sua imagem.

Ouvimos essa magna mensagem de formas variadas: Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Romanos 8:29); Até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo (Efésios 4:13); Quero conhecer Cristo, o poder da Sua ressurreição e a participação em Seus sofrimentos, tornando-me como Ele em Sua morte (Filipenses 3:10); E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a Sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior... (II Coríntios 3:18); Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vocês (Gálatas 4:19).

Até que chegamos ao superlativo exposto pela pena de João, o amado.

Por força de nossa natureza sob o domínio de ambições temporais, ou desviados da fé genuína por propostas de pregoeiros evangélicos que oferecem a vida fácil pela fé no poder de Deus, esquecemo-nos que o plano eterno de Deus, o plano redentor, e toda a mensagem do Evangelho, correm com esse único compromisso: o resgate da imagem de Deus, perdida em cada um de nós. Mais que isso: a Promessa que afirma que Deus haverá de fazer tudo e todos convergirem em Cristo, se compromete ao afirmar que ficaremos idênticos a Ele.

Mas, ainda que passemos pelos textos aqui citados, de Efésios 4:13 e II Coríntios 3:18, áureos textos, nada tem significação maior que a mensagem joanina: Ficaremos iguais a Ele, porque O veremos tal como Ele é. Esta mensagem reúne duas idéias numa só promessa, ou seja, ela explica-se a si mesma, ao mostrar o meio no propósito. O alvo é: longe de nossas distorções pecaminosas, iguais a Ele. E o meio: porque O veremos tal como Ele é. Ora, sabemos o quando disso: Lá, em Sua eterna e gloriosa presença. Mas, um exame detido nos textos supracitados de Efésios e II Coríntios, leva-nos a perceber que esse é um processo que teve um disparo, move-se, está acontecendo e se consumará nAquele dia. Isso para dizer com que objetivo fomos levados ao conhecimento do Evangelho: transformação. Não melhoria, mas transformação.

O compromisso do propósito de Deus é uma ação do Seu Espírito em nossas vidas aqui, visando semelhança, não superação. Não se trata de vida ufanista, bem sucedida. A promessa aponta para transformação e sabemos por quais vias esta passa: Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e santidade provenientes da verdade (Efésios 4: 22-24) e: Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12:2).

Atraente? Simpático? Não, claro! Mas única via eficaz por onde o Evangelho flui e nos leva, até cumprir a proposta: Cristo em vós, esperança da glória.

Não fala de jactância, de superestrelas da fé, conquistadores resplandecentes. Mas de vidas que trazem as marcas do Cordeiro de Deus e sabem que elas são impressas através do processo que estabelece: ...também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança (Romanos 5:3 e 4).

Mas, de volta ao texto de João, ele nos leva a entender que há um processo transformador: jungindo a mensagem de Paulo em II Coríntios a de João na primeira carta, fica claro que o processo é contemplativo. Ele está afirmando que seremos iguais a Ele porque O veremos como Ele é. Refere-se a um momento em que não haverá mais obscuridade, mas transparência absoluta. De fato, Paulo noutro texto afirma que agora estamos vendo, mas por meio de um reflexo obscuro, como em espelho, mas então (depois) veremos face a face (I Coríntios 13:12). E na segunda carta o apóstolo indica que o Espírito que em nós habita está encarregado de nos fazer contemplá-Lo, como por meio de um espelho, e assim, conforme vemos, vamos sendo transformados, mudando de forma (desistindo do disforme?) para nos assemelharmos a Ele.  Este processo ocorre hoje, desde o momento em que o novo nascimento foi operado em nós, mas continua indicando que devo olhar no espelho do Espírito a face de meu Senhor (como Sua vontade e caráter revelados nas Escrituras) e buscar conformar-me a ela.  É evidente que a obscuridade apontada por Paulo caminha junto. Atribuo-a, dentre outras coisas, à imago distorcida que nossas vontades e experiências da vida formam a respeito da Pessoa divina, em especial quanto à Sua paternidade, de forma que projetamos em Deus imagos interiorizadas, como um pai fiscal, cruel, assustador, distante, ou paternalista, bonachão, sempre encobridor das fraquezas de caráter de filhos malcomportados. Essas distorções se favorecem da obscuridade que nossas distâncias propiciam. Daí o apelo: Aproximem-se! ( Hebreus 10:22). É um processo contínuo, que envolve dois agentes: Ele e cada um de nós. Se optamos por percorrer a carreira da vida cristã atrás de conquistas temporais, magias evangélicas que nos ensinem ou viabilizem que driblemos os problemas e posterguemos nossas dores, estamos fora da rota, num atalho e não no Caminho; perdendo tempo, o tempo todo. Foi observando a perda de tempo dos crentes da Galácia que Paulo lamentou sobre eles, quanto a sentir que a seu respeito estava correndo em vão.

Precisamos conscientizar-nos de que nosso compromisso é segui-Lo, e segui-Lo é seguir a senda que leva ao Calvário, porque impõe-se sobre nossa trilha  que brilhemos nela em meio a um mundo tenebroso. Luz, não lantejoulas. Precisamos gastar tempo ante o espelho que o Espírito de Deus coloca perante  nós.

Contemple-O! Admire-O! Adore-O! Identifique-se nEle!


Cristo em vocês, a esperança da glória Colossenses 1:27.