Hoje, se eu fosse procurar ouvir uma palavra para minha fé, gostaria de
ouvir o que me vem como fruto desta meditação que segue.
Apenas desejo compartilhar com você uma meditação objetiva sobre os
textos dos salmos 127, começando no verso 1 e indo até o salmo 128, verso 2:
Se não for o Senhor o construtor da
casa, será inútil trabalhar na construção. Se não é o Senhor que vigia a
cidade, será inútil a sentinela montar guarda. Será inútil levantar cedo e
dormir tarde, trabalhando arduamente por alimento. O Senhor concede o sono
àqueles a quem ele ama. Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele
dá. Como flechas nas mãos do guerreiro são os filhos nascidos na juventude.
Como é feliz o homem que tem a sua aljava cheia deles! Não será humilhado
quando enfrentar seus inimigos no tribunal. Como é feliz quem teme o Senhor,
quem anda em seus caminhos! Você comerá do fruto do seu trabalho, e será feliz
e próspero.
Tem muito ou tudo a ver com nossa luta por crer e realizar, e viver dentro
desse binômio: quando sou eu, ou é Ele o realizador do meu devir.
Eu penso nesse texto sob um tema: QUE SEJA APENAS ELE! E penso nele como
sendo o convite que Deus sempre vem fazendo aos Seus filhos, da primeira à
última página da Bíblia para viverem esse binômio inegociável no exercício da
fé: confiança e dependência.
Penso que esse é todo o dilema da
alma humana. É o grande desafio à fé no coração crente.
Este apelo me sugere neste texto
evidenciar-se em três níveis onde o humano e o divino se esbatem: ansiedade,
dependência e refrigério.
Vamos pensar no primeiro nível: ansiedade.
Quanto ao texto, ela pode ser vista na busca intensa por se dar visibilidade à
fé. Onde está Deus? Como Ele vai fazer? Em que posso ajudar? A expressão que dá a ela significado para nós
é: Se não for o Senhor... Essa
expressão admite tal possibilidade, do realizar não ser pelo Senhor ou não ser
o Senhor realizando. E de que trata esse realizar? Construir, preservar,
adquirir ou conquistar ou subsistir.
É possível tudo isso sem o Senhor.
Mesmo na vida do crente, a cujo respeito se diz: “Nele vivemos, movemos e
existimos”, ou ainda: “Se vivemos, para o Senhor vivemos”. Mas o texto sentencia: sem o Senhor, inútil será! Como?
Será que as pessoas não realizam nem se realizam? Sim! No entanto o
resultado pode trazer o gosto amargo dos erros, percalços e seus desgastes
conseqüentes, que geram ansiedade e encurtam a vida, privando-a de usufruir a
conquista em sua plenitude. É o grande
fardo da ansiedade do ter que dar conta,
de ser a própria garantia, garantir-se.
A observação da vida me tem levado a
ver muitos crentes, mesmo homens de Deus naufragarem nesse mar. Isso destrói.
Apresenta por fim respostas inúteis: canseira e enfado. O homem morre na
ansiedade. Por isso mesmo contra ela somos advertidos por Cristo, Paulo e
Pedro. Lembram? “Não fiquem ansiosos”; “não andem ansiosos”; “lancem sobre Ele
toda a sua ansiedade”.
Contrariando tudo isso vem o segundo nível: dependência.
É a proposta de Deus, que fica subentendida na antítese da mesma
expressão: Se não for o Senhor...para
que a entendamos como sendo: Tem que ser o Senhor! E isso fala também da
possibilidade, que mais que isso, é a proposta divina.
Na verdade, é o Senhor na vida do
crente, apesar do crente.
Dependência é realidade possível. É
toda da dimensão da fé que vê o invisível.
A Revelação de Deus está plena de
seus exemplos: na vida de Moisés, de Josué, Josafá, Pedro, Paulo... e
provavelmente você pode dar-se conta de várias ocorrências na carreira de sua
própria vida, olhando um pouco para trás agora.
O texto afirma que Ele é Deus para construir, preservar, prover.
Se eu não pudesse crer nisso, e não
pudesse comprovar a plena verdade disso, não realizaria nem o princípio do
ministério para o qual o Senhor me chamou por Sua Graça. Vejo esse milagre se
repetir a cada vez que abro a Bíblia diante de alguém ou alguns. Quando saio e
quando retorno. Quando falo e quando ouço.
Glória ao Seu Nome!
É quando Deus tem o direito
inquestionável de ser Deus na vida do crente: sem magia nem superstição. Para
fazer e deixar de fazer. Exatamente no
deslocamento racional da fé que admite que os valores, insumos, capacidades
inerentes ao vaso humano vêm dEle e subsistem nEle.
É algo próximo à linguagem de Paulo
em II Coríntios 3:5 – Não que possamos
reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa
capacidade vem de Deus. Ele nos capacitou para sermos...
É o testemunho que a respeito dEle o
mesmo Paulo dá em I Tessalonicenses 5:24: Fiel
é o que os chama, o qual também fará!
Essa dependência se traduz em ser
ovelha; vaso preenchido; filho, acima de tudo. E qual é o resultado dessa
dimensão de fé? Então nos deparamos com o terceiro nível: refrigério.
É a bênção prometida e indispensável
à sobrevivência da fé. Ação pastoral na alma, conforme lemos no salmo 23: Refrigera a minha alma. É o lugar espaçoso que a fé alcança segundo a
mensagem do salmista no salmo 66:12 : ...mas
a um lugar espaçoso nos trouxeste. Num contexto de pós-provação.
É disso que fala o final do verso 2
do salmo 127 e o texto seguinte, do salmo 128 nos versos 1 e 2: ...o
Senhor concede o sono àqueles a quem Ele
ama; Como é feliz quem teme o Senhor, quem anda em seus caminhos! Você comerá
do fruto do seu trabalho, e será feliz e próspero. Evidente que a mensagem
informa: o trabalho que é feito no temor do Senhor.
Refrigério é o inverso da ansiedade.
Isto não significa que estamos
isentos da ansiedade, mas significa que temos um socorro à mão, uma válvula de
escape quando ela se avoluma e deixa a mente sob atonicidade. E onde essa
válvula de escape pode ser encontrada?
Na Sua presença: o homem de Deus viveu isso e nos traduziu sua experiência
em salmo 16:11 – Tu me farás conhecer a
vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita. Mas ele também nos apresenta o contexto da
promessa, no verso 5 do mesmo salmo: Senhor, Tu
és a minha porção e o meu cálice; és tu que garantes o meu futuro.
Fica de fora a pretensão de bênção
divina sobre escolhas mal feitas ou comprometidas com o egoísmo, ou ainda
aquelas vias do labor que não atendem à moral divina.
A promessa é refrigério mesmo para
enfrentar o que virá, como experimentou Jesus no Getsêmani! E os homens de Deus
nos atestam isso. A dependência consciente é o fiel da balança entre a
ansiedade e o refrigério. E somos por Ele convidados a isso: ...No arrependimento e no descanso está a
salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigor ( Isaías
30:15). Senhor, tu estabeleces a paz para
nós; tudo o que alcançamos, fizeste-o para nós ( Isaías 26:12).
Penso que a forma exata de termos
convicção de que é o Senhor, está na
certeza de haver descanso, conforme ensinou o apóstolo: Seja a paz de Cristo o árbitro no coração de vocês.
Desarme-se e confie!
Com carinho,