sexta-feira, 3 de agosto de 2012

QUE SEJA APENAS ELE!


Hoje, se eu fosse procurar ouvir uma palavra para minha fé, gostaria de ouvir o que me vem como fruto desta meditação que segue.
Apenas desejo compartilhar com você uma meditação objetiva sobre os textos dos salmos 127, começando no verso 1 e indo até o salmo 128, verso 2:
Se não for o Senhor o construtor da casa, será inútil trabalhar na construção. Se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda. Será inútil levantar cedo e dormir tarde, trabalhando arduamente por alimento. O Senhor concede o sono àqueles a quem ele ama. Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá. Como flechas nas mãos do guerreiro são os filhos nascidos na juventude. Como é feliz o homem que tem a sua aljava cheia deles! Não será humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunal. Como é feliz quem teme o Senhor, quem anda em seus caminhos! Você comerá do fruto do seu trabalho, e será feliz e próspero.
Tem muito ou tudo a ver com nossa luta por crer e realizar, e viver dentro desse binômio: quando sou eu, ou é Ele o realizador do meu devir.
Eu penso nesse texto sob um tema: QUE SEJA APENAS ELE! E penso nele como sendo o convite que Deus sempre vem fazendo aos Seus filhos, da primeira à última página da Bíblia para viverem esse binômio inegociável no exercício da fé: confiança e dependência.
            Penso que esse é todo o dilema da alma humana. É o grande desafio à fé no coração crente.
            Este apelo me sugere neste texto evidenciar-se em três níveis onde o humano e o divino se esbatem: ansiedade, dependência e refrigério.
Vamos pensar no primeiro nível: ansiedade. Quanto ao texto, ela pode ser vista na busca intensa por se dar visibilidade à fé. Onde está Deus? Como Ele vai fazer? Em que posso ajudar?  A expressão que dá a ela significado para nós é: Se não for o Senhor... Essa expressão admite tal possibilidade, do realizar não ser pelo Senhor ou não ser o Senhor realizando. E de que trata esse realizar? Construir, preservar, adquirir ou conquistar ou subsistir.
            É possível tudo isso sem o Senhor. Mesmo na vida do crente, a cujo respeito se diz: “Nele vivemos, movemos e existimos”, ou ainda: “Se vivemos, para o Senhor vivemos”.  Mas o texto sentencia: sem o Senhor, inútil será!   Como?  Será que as pessoas não realizam nem se realizam? Sim! No entanto o resultado pode trazer o gosto amargo dos erros, percalços e seus desgastes conseqüentes, que geram ansiedade e encurtam a vida, privando-a de usufruir a conquista em sua plenitude.  É o grande fardo da ansiedade do ter que dar conta, de ser a própria garantia, garantir-se.
            A observação da vida me tem levado a ver muitos crentes, mesmo homens de Deus naufragarem nesse mar. Isso destrói. Apresenta por fim respostas inúteis: canseira e enfado. O homem morre na ansiedade. Por isso mesmo contra ela somos advertidos por Cristo, Paulo e Pedro. Lembram? “Não fiquem ansiosos”; “não andem ansiosos”; “lancem sobre Ele toda a sua ansiedade”.
Contrariando tudo isso vem o segundo nível: dependência.
É a proposta de Deus, que fica subentendida na antítese da mesma expressão: Se não for o Senhor...para que a entendamos como sendo: Tem que ser o Senhor! E isso fala também da possibilidade, que mais que isso, é a proposta divina.
            Na verdade, é o Senhor na vida do crente, apesar do crente.
            Dependência é realidade possível. É toda da dimensão da fé que vê o invisível.
            A Revelação de Deus está plena de seus exemplos: na vida de Moisés, de Josué, Josafá, Pedro, Paulo... e provavelmente você pode dar-se conta de várias ocorrências na carreira de sua própria vida, olhando um pouco para trás agora.
            O texto afirma que Ele é Deus para construir, preservar, prover.
            Se eu não pudesse crer nisso, e não pudesse comprovar a plena verdade disso, não realizaria nem o princípio do ministério para o qual o Senhor me chamou por Sua Graça. Vejo esse milagre se repetir a cada vez que abro a Bíblia diante de alguém ou alguns. Quando saio e quando retorno. Quando falo e quando ouço.  Glória ao Seu Nome!
            É quando Deus tem o direito inquestionável de ser Deus na vida do crente: sem magia nem superstição. Para fazer e deixar de fazer.  Exatamente no deslocamento racional da fé que admite que os valores, insumos, capacidades inerentes ao vaso humano vêm dEle e subsistem nEle.
            É algo próximo à linguagem de Paulo em II Coríntios 3:5 – Não que possamos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus. Ele nos capacitou para sermos...
            É o testemunho que a respeito dEle o mesmo Paulo dá em I Tessalonicenses 5:24: Fiel é o que os chama, o qual também fará!
            Essa dependência se traduz em ser ovelha; vaso preenchido; filho, acima de tudo. E qual é o resultado dessa dimensão de fé? Então nos deparamos com o terceiro nível: refrigério.
            É a bênção prometida e indispensável à sobrevivência da fé. Ação pastoral na alma, conforme lemos no salmo 23: Refrigera a minha alma.  É o lugar espaçoso que a fé alcança segundo a mensagem do salmista no salmo 66:12 : ...mas a um lugar espaçoso nos trouxeste. Num contexto de pós-provação.
            É disso que fala o final do verso 2 do salmo 127 e o texto seguinte, do salmo 128 nos versos 1 e 2:  ...o Senhor concede o sono àqueles  a quem Ele ama; Como é feliz quem teme o Senhor, quem anda em seus caminhos! Você comerá do fruto do seu trabalho, e será feliz e próspero. Evidente que a mensagem informa: o trabalho que é feito no temor do Senhor.
            Refrigério é o inverso da ansiedade.
            Isto não significa que estamos isentos da ansiedade, mas significa que temos um socorro à mão, uma válvula de escape quando ela se avoluma e deixa a mente sob atonicidade. E onde essa válvula de escape pode ser encontrada?  Na Sua presença: o homem de Deus viveu isso e nos traduziu sua experiência em salmo 16:11 – Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita.  Mas ele também nos apresenta o contexto da promessa, no verso 5 do mesmo salmo:  Senhor, Tu és a minha porção e o meu cálice; és tu que garantes o meu futuro.
            Fica de fora a pretensão de bênção divina sobre escolhas mal feitas ou comprometidas com o egoísmo, ou ainda aquelas vias do labor que não atendem à moral divina.
            A promessa é refrigério mesmo para enfrentar o que virá, como experimentou Jesus no Getsêmani! E os homens de Deus nos atestam isso. A dependência consciente é o fiel da balança entre a ansiedade e o refrigério. E somos por Ele convidados a isso: ...No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigor ( Isaías 30:15). Senhor, tu estabeleces a paz para nós; tudo o que alcançamos, fizeste-o para nós ( Isaías 26:12).
            Penso que a forma exata de termos convicção de que é o Senhor, está na certeza de haver descanso, conforme ensinou o apóstolo: Seja a paz de Cristo o árbitro no coração de vocês.
            Desarme-se e confie!
            Com carinho,