quarta-feira, 28 de setembro de 2016

TAMANHA FÉ


“E Elias disse a Acabe: “Vá comer e beber, pois já ouço o barulho de chuva pesada”.
Então Acabe foi comer e beber, mas Elias subiu até o alto do Carmelo, dobrou-se até o
chão e pôs o rosto entre os joelhos. “Vá e olhe na direção do mar”, disse ao seu servo. E
ele foi e olhou. “Não há nada lá”, disse ele. Sete vezes Elias mandou: “Volte para ver”. Na
sétima vez o servo disse: “Uma nuvem tão pequena quanto a mão de um homem está
se levantando do mar”. Então Elias disse: “Vá dizer a Acabe: Prepare o seu carro e
desça, antes que a chuva o impeça”. Enquanto isso, nuvens escuras apareceram no
céu, começou a ventar e a chover forte, e Acabe partiu de carro para Jezreel. O poder do
Senhor veio sobre Elias, e ele, prendendo a capa com o cinto, correu à frente de Acabe
por todo o caminho até Jezreel.”
1 Reis 18:41-46

Certa vez o Senhor Jesus disse: "Se tiveres fé como um grão de mostarda..." Num
contexto em que apontava para a qualidade da fé. Ainda muito boa gente se confunde
nesse texto pretendendo que o Autor da fé estivesse falando sobre tamanho de fé,
exatamente porque leram as vezes em que Ele usou as expressões: "Grande é a tua fé!"
e: "Homens de fé pequena". Também por que estão presos à distorção que pretende que
o homem produz sua própria fé e que os acontecimentos espirituais dependem do
tamanho dessa fé. Quero ressaltar que ainda quando Jesus falou em grande e pequena
com referência à fé, o fez apontando a qualidade dela, e não tamanho.
Porque Deus não depende da fé no crente para poder agir, menos ainda do tamanho
dessa fé.

Mas é fato que a fé nos foi dada a nosso favor, para nos aproximar de Deus e nos
capacitar a crer e ver (nesta ordem) as coisas espirituais.

E é este relato histórico do mais extraordinário profeta de Israel que nos ensina como a fé
deve ser tratada, e como funciona eficazmente, quando trata pelas vias corretas.

Percebam comigo três movimentos, todos atrelados à fé na experiência do profeta:

1- primeiramente ele ouviu

É significativo. Deus operou algo que Elias pôde ouvir antes de ver.
A partir daí creu e então partiu para o segundo movimento (v.42) : orou.
É sempre assim. Tudo começa com o agir de Deus que atinge nossos sentidos. A atenção
de Moisés, a audição de Elias. E no caso de Moisés, ele só entendeu a visão na sarça
depois que ouviu. Voz do Anjo. Mas corroborando Romanos 10:17, que afirma que "a fé
vem pelo ouvir e ouvir a pregação da palavra de Cristo", primeiro Deus permite que
ouçamos. Ouçamos a Palavra, a comunicação profética. A mulher com fluxo de sangue,
ouviu da fama de Jesus. Bartimeu, o cego, ouviu que Jesus passava por ali, outro tanto
Zaqueu; Saulo de Tarso ouviu a voz que falava com ele. O próprio Elias quis um dia
inverter esta ordem vendo primeiro em efeitos, mas Deus o fez primeiro ouvir Sua voz
numa brisa suave para voltar a ter paz. Tomé quis ver primeiro, mas foi repreendido pelo
Senhor. Paulo certa vez disse: (Efésios 1:13): - "Quando vocês ouviram e creram na
palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o
Espírito Santo da promessa".

- “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem
não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue?” (Romanos 10:14). Esta
é a ordem. E então a fé reage, e o segundo movimento já por ela produzido é oração.

2- Em seguida ele orou

Parece que orar é o ato imediato ao ouvir. Como se significasse: eu ouço, então
respondo. Ainda que seja para pedir. Pela ordem do Evangelho, falo do meu
arrependimento, como quem confessa.

- Chamo a atenção para a característica da oração que nasce da fé: ela persevera, a
despeito de notícias desestimulantes.
- Ou mesmo das circunstâncias desestimulantes. Ela não é fruto de obsessão ou
teimosia. Não. Ela está firmada naquilo que ouviu. E porque persevera, por fim vê, que
é o seu alvo último.

É o terceiro movimento da fé.

3- O profeta vê.

Alguém diria: mas quem viu foi o moço por ele enviado.
Vamos atentar ao texto: o moço nada via até que a fé no coração do profeta o vence. Sua
visão era fruto da realidade, não da fé. Via uma nuvem insignificante, totalmente
desconexa com a mensagem passada ao rei: "Há ruído de chuva pesada". Uma nuvem
tão pequena e tão distante, não justificaria a reação do profeta: “Vá dizer a Acabe:
Prepare o seu carro e desça, antes que a chuva o impeça” Quem de fato viu o que a
fé mostrava foi Elias. Chamo sua atenção para o fato de que não foi a oração de Elias ou
sua perseverança que criou a nuvenzinha distante. Não. A oração aqui era unicamente a
ferramenta de que a fé se servia enquanto esperava, porque fé que não gera esperança
não procede de Deus, não é espiritual, nem moral. Não tem caráter. Alguém só espera se
confia.

E aqui traçamos nossas derradeiras lições:

- Para uma fé genuína, a visibilidade não se prende à realidade humana, mas às
dimensões divinas. O tamanho da nuvem não importava. Era pequena, mas suficiente
para produzir vendaval e aguaceiro.
- Para uma fé genuína os fatos não precisam ser convincentes.
- A fé genuína enxerga a Promessa e através da Promessa, e assim cumpre sua
natureza espiritual conforme descrito em Hebreus 11:1 - “Ora, a fé é a certeza daquilo
que esperamos e a prova das coisas que não vemos". Exatamente como também o
apóstolo Paulo descreveu em Romanos 8:24 e 25 - “Pois nessa esperança fomos
salvos. Mas esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está
vendo? Mas, se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente.”

Nenhum de nós, crentes no Senhor Jesus, Autor e Consumador da fé, precisa de uma
grande fé para tratar com Deus. Basta saber que temos um grande Deus para tratar com
nossa pequena fé. E se tudo que nossa pequena fé tiver que ver for uma nuvem tão
pequena que não pareça importante, não importa. Para Deus ela é a resposta que basta,
e os efeitos ficam por conta Dele.