quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

DEUS TEM MAIS



Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação?” – Hebreus 1:14.

alguns anos passados tive o grato privilégio de ouvir pela última vez a pregação da Palavra de Deus pelo saudoso reverendo Antônio Elias quando fez sua derradeira viagem a Rio Claro-SP. Nessa ocasião ele ilustrou seu sermão sobre descansar no poder de Deus com uma história pessoal. Contava que certa manhã, já um ancião de cerca de 96 anos de idade, fôra até uma feira livre próxima à sua residência e começara a comprar distraidamente algumas coisas acumulando sacolas de cujo volume não se deu conta, até o momento de retornar para casa e perceber que era-lhe impossível leva-las devido ao peso. E fez algumas fatigantes e teimosas tentativas até ver passar ao largo seu filho, forte, vigoroso, que corria se exercitando e nesse momento o viu com as sacolas, vindo de pronto toma-las todas para tirar dele o fardo e o excesso. Entregues as sacolas, ocorreu-lhe perceber uma lição do coração de Deus para o seu: Deixe comigo os fardos acumulados. Eu dou conta; Eu posso. Eu Sou mais forte. E fez a devida aplicação a favor da fé dos que o ouviam naquela memorável manhã.

Às vezes fico pensando no fato de que Deus tem a Seu dispor incontáveis hostes de agentes a quem “dá ordens a nosso respeito(Salmo 91:11), capazes e fortes, poderosos para fazer e realizar o que Ele determina a nosso favor. É disso o que também nos fala o texto de Hebreus.

Algumas vezes nossa fé perde posição e atenção e deixa de perceber que Deus tem muito mais recursos disponíveis dos quais Se serve em atenção a nós. Olhamos os fatos impactantes, os agentes desconcertantes que atuam nossos dissabores e decepções e esquecemos que muitos mais são os que estão com Deus a nosso favor do que o número ou o tamanho daquilo que é contra nós.

Foi exatamente esta a experiência do profeta Eliseu e seu moço Geazi nos dias dos reis de Israel. O rei da Síria, seu inimigo, enviou à Samaria um exército armado para levar o profeta prisioneiro. Geazi viu aquele exército e entrou em pânico. Eliseu orou por ele para que Deus lhe abrisse os olhos a fim de que pudesse ver os montes ao redor da cidade cobertos de carros de fogo e cavaleiros celestiais para fazerem a guarda do velho homem de Deus.

Outro idoso do Senhor estava guardado por quatro ordens de quatro sentinelas, preso a correntes numa prisão política, fortemente guardada. Um único anjo de Deus foi enviado para soltar as cadeias e fazê-lo passar incólume pelas inertes e inúteis sentinelas, atordoadas pelo seu poder.

Eles entram onde tudo está fechado, indevassável. Eles sobem, descem, cercam, seguram. São os verbos que ilustram na Bíblia seu dinâmico atuar, a favor dos que herdam a salvação. Somos informados de que assumem lugar junto à fornalha ardente, e refrigeram do fogo aqueles que nela foram lançados; descem a covis de feras, e as intimidam e calam, para que não toquem nem se aproximem daquele que estava destinado a ser por elas destroçado. Passam sobre copas de árvores, fazendo ruídos sinalizadores para guerreiros humanos de Deus, como a dizer: Aqui estamos. Somos a tropa de reforço nesta batalha!Outras vezes, aparecem em bandos, no itinerário do crente temeroso para sinalar que ele não está só em sua jornada em direção ao confronto com seu adversário. Entre tantas cenas, estas ilustram respectivamente as histórias dos companheiros de Daniel, dele próprio, de Daví e de Jacó. Mas como esquecer quando surge um anjo para assistir um profeta depressivo e desistente no deserto de sua deserção ministerial, como fez a Elias, falando com ele, instando, alimentando e orientando para dar sequência à jornada? Como esquecer quando eles surgem em grupo junto ao Filho de Deus, após quarenta dias de provação no deserto, para confortar seu coração depois da luta contra Satanás? Como esquecer as vezes diversas em que foram enviados para dar avisos, advertir, consolar, como a Agar no deserto, ou para anunciar a Maria e José o que estava para acontecer que revolucionaria o mundo físico e espiritual, quando da Encarnação do Filho do Deus Eterno? Sempre enviados, sempre cumprindo ordens divinas; sempre a favor dos filhos de Deus.

Há miríades de agentes divinos sob ordens expressas a nosso favor. São os veículos de que Ele Se serve para cuidar de nós. E se assim não fosse, seria bastante a bendita promessa que sossega nossa fé quando proclama: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Sossega, coração! Mais são os que estão contigo do que os que podem agir contra ti, quem ou quantos sejam.

Pr. Cleber Alho

domingo, 3 de janeiro de 2016

Pirão da Vida


Nosso texto se encontra em II Reis 4: 38-41: 

Depois Eliseu voltou a Gilgal. Nesse tempo a fome assolava a região. Quando os discípulos dos profetas estavam reunidos com ele, ordenou ao seu servo: Ponha o caldeirão no fogo e faça um ensopado para estes homens. Um deles foi ao campo apanhar legumes e encontrou uma trepadeira. Apanhou alguns de seus frutos e encheu deles o seu manto. Quando voltou, cortou-os em pedaços e colocou-os no caldeirão do ensopado, embora ninguém soubesse o que era. O ensopado foi servido aos homens, mas, logo que o provaram, gritaram: Homem de Deus, há morte na panela!” E não puderam mais tomá-lo.
Então Eliseu pediu um pouco de farinha, colocou no caldeirão e disse: Sirvam a todos. E já não havia mais perigo no caldeirão.
O texto imediato a este, que relata um novo milagre, nos informa que na casa, o seminário de Eliseu, havia cem homens. Era um lar de cem, mais o profeta. Mas era a casa deles. À volta, fome, sequidão. O profeta, a meu ver, já provoca a fé nos corações quando dá a ordem para a colheita de legumes no campo, num contexto em que a fome era predominante e consistia, como era comum, no estio que matava a planta no campo. Daí, nada surpreender que um mais entusiasmado saísse e colhesse e enchesse seu farnel com o que lhe pareceu uma leguminosa, mas que não passava de venenosa colocíntida, cujas folhas se assemelham as de uma vinha. Ela tem gosto amargo ao extremo e consiste num purgativo violento que pode produzir ulcerações nos intestinos, vindo a provocar a morte (Champlin, R.N., O Antigo Testamento Interpretado, v.3, 1ªed., 2000). O resultado foi que no caldeirão da sopa, acha-se a morte. Alguém prova e grita: Homem de Deus, há morte na panela!
E então eu me dou conta de que aquilo que foi feito como trivial, rotineiro, doméstico, consistindo no espaço da comunhão em família, tornara-se em veículo da morte. Nada há mais íntimo e aconchegante que a mesa de refeição doméstica. Ela tem o compromisso de fortalecer laços, preservar e investir na vida. No seu caldeirão cozinha-se e se serve bênçãos das quais todos participam na mesma medida. Este caldeirão tem a força de um ícone: a intimidade do lar.
Também me dou conta da comida que muitos caldeirões domésticos têm servido, por falta de discernimento e zelo, ou mesmo negligência com as desculpas da pressa que a pressão do dia a dia impõe. Caldeirões envenenados, porque neles se cozinham tudo que pode ser colhido sem filtros nem vigilância no campo de estio lá de fora, neste mundo tenebroso. Com a melhor das intenções deixa-se que as famílias se envenenem pela oferta imoral televisa, da internet, dos coleguismos e outros lixos de que se permite compor as mesas. Filhos se envenenam. Cônjuges se envenenam, sob o consentimento dos que servem o caldeirão doméstico. Às vezes mais literal do que aparenta, como o consentir no livre fluxo de embriagantes à mesa. E morrem! Morrem nas rupturas conjugais; nos extravios morais; no abandono  dos valores da vida; na rebeldia aos pais; nas drogas; nas bebidas (consentidas, estimuladas, porque servidas à mesa). Na imoralidade que prega sua mensagem através de piadas picantes, palavras de baixo calão, xingamentos, ofensas, tudo isso servido sob muitos dos tetos cristãos. Envenenam-se filhos e pais que comem nos caldeirões domésticos os filmes e programas não filtrados, eivados de pornografia, decididamente temperados com o gostinho picante do não faz mal” ou: eu sei o que faço. E morrem!
Relacionamentos superficiais; desmoronamentos conjugais; abandono da fé (que às vezes também se alimenta de colocíntidas disfarçadas de legumes servidos nos caldeirões eclesiásticos pelos pregoeiros da teologia da prosperidade). E por aí vai.
Mas havia na casa um homem de Deus. É de se esperar que nos lares cristãos haja um homem de Deus ou uma mulher de Deus a quem se recorra para deter a morte. E esse homem de Deus tinha a farinha que preparou o pirão da vida, em lugar da morte. Não se jogou o caldeirão e seu conteúdo fora. O que havia ali dentro, apesar de, era tudo e unicamente o que se produzia lá fora. O que ele fez foi lançar mão de um recurso seu, sua farinha, que funcionou como um antídoto do mal, neutralizando-o e convertendo a morte em vida. Como Deus fez conosco: não nos lançou fora, mas despejou o sangue de Seu Filho em nossas vidas, que converteu a morte em vida eterna.
Creio que em cada lar deve haver um homem ou mulher de Deus que tem a farinha para transformar o veneno em vida para a casa toda. Farinha que deitada no caldeirão do veneno neutraliza o mal. Eliseu sabia que havia farinha ali. Era usar. Creio que todos nós, em cujo coração o Espírito de Deus habita, temos a farinha que nos lembra o alimento trabalhado, previamente preparado e pronto para uso no momento oportuno. Ainda que terrível seja o veneno posto a cozer no caldeirão, nós temos a farinha que deitada nele, desfaz o mal e a morte: a palavra certa dita a seu tempo, neutralizando o veneno da intriga, da maledicência, do palavreado chulo, das ofensas. Como farinha também funcionam o afeto, o carinho, a repreensão, o testemunho que inspira e inverte a imagem corrompida que grassa à volta; a mensagem que guia, orienta e consola. Tudo isto e ainda mais, constitui a farinha da graça que não pode deixar de ser posta no caldeirão, a fim de produzir um pirão que vivifica e encaminha para a vida quantos dele se alimentem.
Que o Senhor nos agracie.