segunda-feira, 3 de junho de 2013

QUÃO COMPROMETIDOS?

...Festo interrompeu a defesa de Paulo  e disse em alta voz: “Você está louco, Paulo! As muitas letras o estão levando à loucura!”
Respondeu Paulo: “Não estou louco, excelentíssimo Festo. O que estou dizendo é verdadeiro e de bom senso. O rei está familiarizado com essas coisas, e lhe posso falar abertamente. Estou certo de que nada disso escapou do seu conhecimento, pois nada se passou num lugar qualquer. Rei Agripa, crês nos profetas? Eu sei que sim”.
Então Agripa disse a Paulo: “Você acha que em tão pouco tempo pode convencer-me a me tornar cristão?”
Paulo respondeu: “Em pouco ou em muito tempo, peço a Deus que não apenas tu mas todos os que hoje me ouvem se tornem como eu, porém sem estas algemas”.  Atos 26: 25-29.

Um rei diante do maior pregador do Evangelho, em todos os tempos. Depois de ouvir o discurso de Paulo em que ele expõe todo o propósito de Deus através de sua vida, e narra sua extraordinária experiência de conversão, Agripa se assusta, porque descobre-se sob sensações que o levaram a pensar-se à beira de converter-se ao cristianismo. E então, proclama aos ouvidos de todo um séqüito real: “Você quase me persuadiu a me fazer cristão, Paulo”.

Esta declaração de Agripa já recebeu variadas versões. Da maneira mais literal possível, Agripa teria dito: “Um pouco mais de tempo e você me convenceria a me tornar cristão”.

“Quase”. “Por tão pouco”. Estas são expressões pertinentes àquele discurso. O “tão pouco tempo” do rei Agripa está custando a ele, em nossa medida, mais de 2000 anos de oportunidade perdida!

Também mais de 2000 anos é a conta da passagem de tempo na história de um povo inteiro, os judeus, em que se cumpre a profecia de Jesus, quando lamentando sobre Jerusalém, disse: “Ah! Se tu soubesses ao menos neste tempo o que à tua paz pertence!...dias virão sobre ti em que te cercarão de trincheiras... porque não conheceste a oportunidade que Deus lhe deu” (Lucas 19: 42-44).

Por pouco, tão pouco! Disse Agripa. Quanto, de muito, ele poderia perder por “tão pouco”? Talvez aí estivesse a resposta.

Nas palavras de Paulo, uma verdade profética: “Quem dera se por pouco ou muito tu e os outros todos se tornassem como eu”.

Em outras palavras: “pouco ou muito, o importante é que você possa ser feito como eu fui feito”. Este é o sentido literal da declaração do apóstolo. É ousada a declaração. Paulo arrebata o argumento de Agripa e o transforma: “Não é decidir ser um cristão, meramente. Não se trata de passar a ser, mas ser feito, e ser feito um cristão tal como sou”.

Este é o ponto de convergência de nosso pensamento. A questão do quanto custa a alguns tornar-se um cristão nos moldes de Deus, conforme os modelos de Deus.

Perde-se muito, às vezes, por tão pouco.

Se no caso de Agripa era uma questão de mais tempo de argumentação, foram ele e Festo que interromperam o discurso e jogaram fora a oportunidade que lhes estava “por pouco”.

Foi assim com Esaú, irmão de Jacó. Por tão pouco, jogou muito, tudo fora e perdeu a bênção de Deus que lhe seria por toda a vida. Era muito, trocado por tão pouco: uma refeição, que ele julgou mais importante, mais urgente, mais substancial, que a bênção eterna de Deus sobre sua vida e de seus filhos. “De que me serve a bênção?”- Disse ele, “ se estou a ponto de morrer de fome”.
São tantos os Esaús hoje! Trocam o muito, invisível, de Deus, pelo pouco do seu imediatismo carnal e visível. Atender a uma paixão momentânea, é-lhes preferível à honra de toda uma vida na comunhão do Espírito Santo.

Às vezes o “por pouco” é uma negociata sem escrúpulos, negócios escusos. Ou o desconforto da companhia de um irmão amado, num curto tempo, uma companhia santa que impede outro tipo de relacionamento; pode ser o gastar um tempo menor ou recurso melhor com as coisas de Deus.

Às vezes é o abafar do som do chamado divino, pelo tilintar das moedas deste século. E a bênção passa, para sempre!

Há 17 anos eu ministrava sobre as vidas dos homens de Deus, modelos, como Paulo, Moisés, Abraão, Estevão, etc, num encontro de homens. Dei tempo para que eles digerissem o que ouviram e à tarde discorressem e orassem sobre o assunto. Quando voltamos a nos reunir, alguns, quebrantados, pediam aos demais que orassem por eles porque viam-se tão longe daqueles modelos, quanto mais de Cristo! Lembro então um presbítero que nessa ocasião disse: “Irmãos, não fomos chamados para sermos um Pedro, um Paulo, ou um Davi nem um Moisés. Fomos chamados para sermos o que somos. Deus não pretende tudo isso para nenhum de nós. Essa foi só a vida deles, não é para nós”.
Os anos se passaram. Observei a vida daquele irmão. Tinha um chamado, deixou-o. Atravessou crises domésticas sérias, perdeu o filho para o mundo; faliu duas vezes nos empreendimentos que tentou: loja, transportadora e outros. Teve que deslocar-se de sua cidade e família para tentar emprego em outro lugar. Precisou de ajuda para sobreviver com a família e para ter moradia, de favor. E então pensei comigo quanto ele teria amado, em dadas circunstâncias, ter a têmpera, a fé, a confiança de um Paulo que podia dizer, em circunstâncias humílimas: “Sei ter em abundância e sei ter escassez. Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”. Porque ele nada soube e nada aprendeu nesses tormentos. Sua fé vacilou muito, visitou a blasfêmia, arranhou o limiar da apostasia. Se tivesse chegado perto de ser um Paulo ou um Davi, teria sabido transformar seu sofrimento em conquista, crescimento, testemunho eficaz.

De outro ouvi, noutro local e ocasião: “Graças a Deus não fui chamado para ser um missionário nem para sofrer como um”. Lamentei.

A esse respeito, lembro do mesmo Paulo dizer: “Pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele”.
(Filipenses 1:29).

Perde-se tanto por tão pouco!

            Com carinho, Pr. Cleber Alho.


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