...Festo interrompeu a defesa de Paulo
e disse em alta voz: “Você está louco, Paulo! As muitas letras o estão
levando à loucura!”
Respondeu Paulo: “Não estou louco, excelentíssimo Festo. O que estou
dizendo é verdadeiro e de bom senso. O rei está familiarizado com essas coisas,
e lhe posso falar abertamente. Estou certo de que nada disso escapou do seu
conhecimento, pois nada se passou num lugar qualquer. Rei Agripa, crês nos
profetas? Eu sei que sim”.
Então Agripa disse a Paulo: “Você acha que em tão pouco tempo pode
convencer-me a me tornar cristão?”
Paulo respondeu: “Em pouco ou em muito tempo, peço a Deus que não
apenas tu mas todos os que hoje me ouvem se tornem como eu, porém sem estas
algemas”. Atos 26: 25-29.
Um rei diante do maior pregador
do Evangelho, em todos os tempos. Depois de ouvir o discurso de Paulo em que
ele expõe todo o propósito de Deus através de sua vida, e narra sua
extraordinária experiência de conversão, Agripa se assusta, porque descobre-se
sob sensações que o levaram a pensar-se à beira de converter-se ao
cristianismo. E então, proclama aos ouvidos de todo um séqüito real: “Você
quase me persuadiu a me fazer cristão, Paulo”.
Esta declaração de Agripa já
recebeu variadas versões. Da maneira mais literal possível, Agripa teria dito:
“Um pouco mais de tempo e você me convenceria a me tornar cristão”.
“Quase”. “Por tão pouco”. Estas
são expressões pertinentes àquele discurso. O “tão pouco tempo” do rei Agripa
está custando a ele, em nossa medida, mais de 2000 anos de oportunidade
perdida!
Também mais de 2000 anos é a
conta da passagem de tempo na história de um povo inteiro, os judeus, em que se
cumpre a profecia de Jesus, quando lamentando sobre Jerusalém, disse: “Ah! Se
tu soubesses ao menos neste tempo o que à tua paz pertence!...dias virão sobre
ti em que te cercarão de trincheiras... porque não conheceste a oportunidade
que Deus lhe deu” (Lucas 19: 42-44).
Por pouco, tão pouco! Disse
Agripa. Quanto, de muito, ele poderia perder por “tão pouco”? Talvez aí
estivesse a resposta.
Nas palavras de Paulo, uma
verdade profética: “Quem dera se por pouco ou muito tu e os outros todos se
tornassem como eu”.
Em outras palavras: “pouco ou
muito, o importante é que você possa ser feito como eu fui feito”. Este é o
sentido literal da declaração do apóstolo. É ousada a declaração. Paulo
arrebata o argumento de Agripa e o transforma: “Não é decidir ser um cristão,
meramente. Não se trata de passar a ser, mas ser feito, e ser feito um cristão
tal como sou”.
Este é o ponto de convergência de
nosso pensamento. A questão do quanto custa a alguns tornar-se um cristão nos
moldes de Deus, conforme os modelos de Deus.
Perde-se muito, às vezes, por tão
pouco.
Se no caso de Agripa era uma
questão de mais tempo de argumentação, foram ele e Festo que interromperam o
discurso e jogaram fora a oportunidade que lhes estava “por pouco”.
Foi assim com Esaú, irmão de
Jacó. Por tão pouco, jogou muito, tudo fora e perdeu a bênção de Deus que lhe
seria por toda a vida. Era muito, trocado por tão pouco: uma refeição, que ele
julgou mais importante, mais urgente, mais substancial, que a bênção eterna de
Deus sobre sua vida e de seus filhos. “De que me serve a bênção?”- Disse ele, “
se estou a ponto de morrer de fome”.
São tantos os Esaús hoje! Trocam o muito, invisível,
de Deus, pelo pouco do seu imediatismo carnal e visível. Atender a uma paixão
momentânea, é-lhes preferível à honra de toda uma vida na comunhão do Espírito
Santo.
Às vezes o “por pouco” é uma
negociata sem escrúpulos, negócios escusos. Ou o desconforto da companhia de um
irmão amado, num curto tempo, uma companhia santa que impede outro tipo de
relacionamento; pode ser o gastar um tempo menor ou recurso melhor com as
coisas de Deus.
Às vezes é o abafar do som do
chamado divino, pelo tilintar das moedas deste século. E a bênção passa, para
sempre!
Há 17 anos eu ministrava sobre as
vidas dos homens de Deus, modelos, como Paulo, Moisés, Abraão, Estevão, etc,
num encontro de homens. Dei tempo para que eles digerissem o que ouviram e à
tarde discorressem e orassem sobre o assunto. Quando voltamos a nos reunir,
alguns, quebrantados, pediam aos demais que orassem por eles porque viam-se tão
longe daqueles modelos, quanto mais de Cristo! Lembro então um presbítero que
nessa ocasião disse: “Irmãos, não fomos chamados para sermos um Pedro, um
Paulo, ou um Davi nem um Moisés. Fomos chamados para sermos o que somos. Deus
não pretende tudo isso para nenhum de nós. Essa foi só a vida deles, não é para
nós”.
Os anos se passaram. Observei a
vida daquele irmão. Tinha um chamado, deixou-o. Atravessou crises domésticas
sérias, perdeu o filho para o mundo; faliu duas vezes nos empreendimentos que
tentou: loja, transportadora e outros. Teve que deslocar-se de sua cidade e família
para tentar emprego em outro lugar. Precisou de ajuda para sobreviver com a
família e para ter moradia, de favor. E então pensei comigo quanto ele teria
amado, em dadas circunstâncias, ter a têmpera, a fé, a confiança de um Paulo
que podia dizer, em circunstâncias humílimas: “Sei ter em abundância e sei ter
escassez. Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”. Porque ele
nada soube e nada aprendeu nesses tormentos. Sua fé vacilou muito, visitou a
blasfêmia, arranhou o limiar da apostasia. Se tivesse chegado perto de ser um
Paulo ou um Davi, teria sabido transformar seu sofrimento em conquista,
crescimento, testemunho eficaz.
De outro ouvi, noutro local e
ocasião: “Graças a Deus não fui chamado para ser um missionário nem para sofrer
como um”. Lamentei.
A esse respeito, lembro do mesmo
Paulo dizer: “Pois a vocês foi dado o privilégio
de não apenas crer em Cristo, mas
também de sofrer por ele”.
(Filipenses 1:29).
Perde-se tanto por tão pouco!
Com
carinho, Pr. Cleber Alho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário