domingo, 23 de fevereiro de 2014

QUEM PRECISA DE AVIVAMENTO?

Avivamento é um daqueles verbetes que se transforma em terminologia técnica, no que tange à fé, e se padronizam.

É importante saber que este conceito criado, como outro semelhante e de suma importância teológica ( trindade) não consta nos registros da Revelação escrita de Deus.
Provavelmente derivou-se de um termo muito antigo, cunhado por antigas versões da Bíblia, a partir de Habacuque 3:2. Conforme aquelas versões, o profeta teria orado assim:   " Aviva, Senhor a Tua obra..." O que traduzia, na verdade, a expressão: " realiza de novo"' ou: "torna a fazer".  O radical da palavra usada por Habacuque atende à idéia de reacender, ou dar brilho, fulgor, donde certamente derivou-se a noção do verbo avivar. Esta idéia também está presente nas palavras do apóstolo Paulo a seu discípulo dileto Timóteo, quando aludindo à espiritualidade do moço ele exortou: " Por essa razão torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você..." ( II Tm.1:6 ). Expressão que também antigas versões traduziram como "aviva" ou " reaviva".

Assim, a idéia passou a conceituar toda experiência histórica, local ou pessoal no curso do trato de Deus com os homens, através da Igreja, que revelasse uma renovação de votos, posicionamento, concerto de vidas, conversões ou comoções espirituais evidentes.
Passou à história, muito bem recebido e usado por centenas de homens de Deus para apontar uma invasão ou atuação sobrenatural do Espírito de Deus produzindo grandes eventos de efeitos duradouros e notórios, incluindo a conversão de massas humanas em profusão, ou despertamento missionário de indivíduos e comunidades inteiras. As intervenções extraordinárias de Deus no curso da história da Igreja, todas elas atribuídas a um agir fora do corriqueiro, do Espírito Santo, foram apontadas como avivamento espiritual. Assim conhecemos o conceito.

Lamentavelmente o sentido se corrompeu e por conseqüência perdeu seu significado pois tendo sido vulgarizado, passou a ser usado para apontar todo e qualquer frenesi ou ajuntamento de caráter espiritual suspeito. Hoje é bastante um grupo delirar sob forte emoção perpetrada pela mídia evangélica para que se atribua a isso a noção de avivamento. Se homens de Deus que no passado foram instrumentos de avivamento real, ressurgissem em nossos dias e fossem constatar o que a Igreja de hoje reputa e pratica como avivamento, tornariam a morrer. De desgosto, escandalizados.

Avivamento é um agir incomum e perceptível do Espírito de Deus sobre pessoas e grupos. A história nos ensina que ele sempre ocorreu em resposta a uma crise espiritual, trazendo restauração. Mas, um aspecto todo especial desse agir do Espírito que chamou-se avivamento, é que tanto na oração de Habacuque, quanto na exortação de Paulo, ele atende a duas características intrínsecas: deve ser pedido a Deus ( Habacuque) e deve ser buscado pelo crente em sua vida e ainda preservado ( Paulo ).

Mas, quem e quando precisa de avivamento?

Se partirmos do pressuposto que o avivamento espiritual é uma experiência de transformação de algo que está apagado, vazio, o cristão que assim se encontra, acomodado e satisfeito, jamais vai dar-se conta de sua necessidade e valor. Daí a exortação de Jesus à Igreja, através de uma de suas faces, a de Sardes, quando lhe diz: "Tens nome de que vives, mas estás morto".  Outro tanto vale quando Ele diz à Igreja através de Laodicéa: "Quem dera foras frio ou quente; mas és morno".
Tanto um estado quanto outro aponta uma inércia de que o crente não se apercebe, mas satisfeito com sua espiritualidade rasa, medíocre e vazia, vai se comparando com outros em pior estado e dá-se por satisfeito, reputando a vida com Deus a um ramerrão de atividades cômodas e repetitivas às quais adere por tradição, compromisso, e muitas vezes com esforço e sacrifício. Avivamento é uma busca espiritual para vidas inconformadas e sedentas de Deus. Vidas que estão conscientes de seu processo sorrateiro de mundaneidade crescente, com nome de " normalidade".

Vale mesmo para um cristão quando vive a realidade da igreja de Éfeso que o Senhor denunciou como cheia de ativismo bom e sadio, mas que encobria vida desprovida de paixão. A realidade dos crentes de Éfeso caracteriza muito o perfil dos crentes modernos, escondidos numa multiforme ação eclesiástica, com a pretensão de estar fazendo a obra de Deus, mas chafurdados no tecnicismo, liturgia, pragmatismo religioso ou ativismo que motiva, mas não emotiva nem é expressão de amor a Cristo. Pode até ser amor, mas às coisas de Deus e não Àquele que as realiza. O que Jesus cobrou da Igreja de Éfeso define o que hoje pode ser entendido como a busca por um avivamento pessoal, particular, singularizado: paixão. Se falta amor, falta vida, e o espaço fica aberto para uma espiritualidade sem brios, sem brilho, vazia.

Quem precisa de avivamento? O crente que deseja viver no limiar de uma paixão por seu Deus que sempre Se revelou por ele apaixonado, a ponto de Paulo dizer: " O amor de Cristo nos constrange..."

Uma pergunta: está boa a vida que você tem vivido na fé, ou falta mais? Jesus pode ver sua vida e dizer: " Bem está servo(a)bom ( boa) e fiel..." Ou Ele diria como a Éfeso: "Tenho porém contra ti..."

Lembre: Há pouco tempo dissemos: " O caminho do avivamento passa pela santificação da vida". É fato. Antes de derramar o azeite da unção sobre o sacerdote, Moisés lavava-o com sangue.

Que Deus nos inquiete nesta geração, e sejamos faróis, referências e estímulo para nossos filhos e demais cristãos.

Pr. Cleber Alho.

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