terça-feira, 29 de novembro de 2011

O CARÁTER DO JEJUM

 Frequentemente sou abordado por irmãos que me perguntam o que penso do jejum. Se jejuo, como jejuo ou mesmo se o jejum é bíblico. O questionamento é tão repetitivo que resolvi reflexionar a respeito, numa tentativa de resposta.
Antes de qualquer questão, convém afirmar que, a despeito do que pensam alguns evangélicos da atualidade, o jejum é bíblico, sim, e tão pertinente à experiência da Igreja hoje quanto o foi outrora. Basta examinar textos como estes:
Mateus 4: 1 e 2Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.
Mateus 6: 16 e 17 - Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto...
Atos 13: 2 e 3Enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram.
II Coríntios 11: 27 - ...muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum...
Estes, associados a outros, mostram que o jejum tanto foi praticado e sancionado pelo Senhor Jesus, quanto observado pela Igreja em diversas instâncias.
Existe, e isto é um ponto relevante, uma diferença considerável entre o jejum que os judeus da Velha Aliança observavam, e o jejum da Igreja, no Novo Testamento. Lá, o jejum tinha um caráter ritualístico, impositivo e sacrificial. Maioria das vezes era expressão de desolação, tristeza de alma, coração compungido. Aqui, ele tem caráter exclusivo de reforço à oração e atende somente a isto. Não observa mais qualquer apelativo sacrificial ou ritualístico. Funciona como reforço ao clamor ou uma separação objetiva do adorador para o seu Deus.
É então que respondemos a outras questões: jejuar não é passar fome e sede. O texto de II Coríntios 11 acima referido indica bem essa distinção. Quando muito, o jejum atende a um propósito de separar-se em oração, com objetividade e até atitude adoradora, mas não a um sacrifício como flagelo físico para autopunição. Isso é medieval e supersticioso. É profano e iníquo. O jejum bíblico é clamor, é oferta, é busca de Deus. Implica numa separação objetiva em oração, logo, não atende a um “deixar de comer” oferecido a Deus, enquanto se cuida de interesses temporais e privativos. Jejuar não é fazer dieta forçada sob desculpa espiritualizada, que além de ser uma atitude risória, beira à hipocrisia.
            Houve um tempo em que ouvíamos ( e líamos )  absurdos como jejum de coca-cola, de cafezinho, de televisão, etc ( se valesse, eu sugeriria a alguns crentes “liberais” o jejum da cerveja, do cigarro, das baladas, coisas que os crentes “modernos” se permitem a rodo hoje).
Mas jejum é oração. É assunto sério. Jesus o apontou como reforço para momentos críticos: “Mas esta espécie só sai pela oração e pelo jejum” – Mateus 17:21. A Igreja se mobilizou em jejum diante de decisões significativas e de alto comprometimento, como já vimos no texto de Atos 13: 2 e 3, e aqui vemos o outro aspecto do jejum, de que já falamos: Ele é instrumento de adoração.
Quanto à questão de caráter mais pessoal, minha experiência com o jejum, que pontuo por conta do que o discipulado requer, é que só jejuo em três instâncias: para adorar; para buscar reforço diante de algum trabalho desafiador na obra de Deus, ou diante do que conceituo como “causas impossíveis”. E neste particular não incluo as questões de enfermidade, que para mim não são causas impossíveis. Causas impossíveis para mim, são as que estão além da minha possibilidade de crer e esperar.
Jejum é bênção; é assunto sério.
A Bíblia aponta com freqüência o jejum duplo: comida e bebida, mas via de regra ele atende apenas ao alimentar-se, excluindo o beber. Temos os relatos dos jejuns de 40 dias, observados por Jesus e por Elias. Longos jejuns como o da cidade de Nínive, que foi um jejum conclamado e de autopenitência. Mas a lógica nos leva a entender que o jejum, para não ser e por não ser um sacrifício, deve ter o tamanho da necessidade da oração e do propósito livre e adorador do crente.
Também é fato que, tristemente, tal qual a oração, o jejum é prática em quase total desuso na experiência cristã hodierna.
A história da Igreja Cristã está eivada de relatos das bênçãos advindas da oração entremeada com o jejum.
Se o cristão sincero ocupar-se em entender o jejum como elemento coadjuvante na prática da oração, já terá crescido muito na sua visão das coisas de Deus. Jejum é coisa santa. É separação específica, consciente e volitiva para Deus.
DEZEMBRO 2011

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