terça-feira, 5 de maio de 2015

CÂNTICO DA NOSTALGIA

Quanto aos santos que há na terra, eles é que são os notáveis em quem está todo o meu prazer- Salmo 16:3.

Recentemente um jovem que é achegado a uma das minhas filhas, novo convertido, disse-me num desabafo sentido: __ Uma vez crente, eu me vejo completamente sozinho em casa, entre meus parentes e entre os amigos de antes, porque nenhum é crente. Entende como me sinto?” Eu entendia sim, e muito bem. Lembrava-me um tempo em que o Evangelho me alcançara e de fora ficaram todos os meus. Nenhum recurso restou a não ser me voltar para a família da fé, que trazia agora os mesmos ideais, linguagem e comportamento.
Foi precisamente o que sentiu e disse o salmista no texto acima. Há um contexto, e esse aponta ao fato de que ele se expressa vivenciando uma busca intimista do Senhor em Quem se satisfaz e a Quem quer acima de tudo e de todos. Basta dar sequência à leitura do salmo. E nele o salmista inclui  no cenário dessa relação, aqueles que estão a Ele, o Senhor, ligados por aliança. Destaco o fato, comprovando isto, de que por notáveis, referente aos santos, o autor emprega um termo aplicado profeticamente a Jesus, termo messiânico, em Jeremias 30:21.
Isto aponta para mim a idéia de que os santos participam de tal maneira dAquele que é Santo, que Este pode ser achado neles; são da mesma natureza.
Mas voltando ao autor, ele teria dito, literalmente: Quanto aos santos que são da terra, eles são os notáveis em quem está todo o meu prazer. Portanto, seus argumentos no texto fecham seus movimentos existenciais em termos de prazer, alma, afetos, em torno de dois eixos: o Senhor e os que pertencem a Ele, os que, conforme o salmista, com Ele estão em aliança. 
O ponto em questãé a convergência ou centralização do prazer de ambiência: a comunhão dos santos. Vale lembrar que Pedro posteriormente vai se servir deste salmo apontando como messiânico e atribuindo sua mensagem ao próprio Senhor Jesus, logo, depreendemos que profeticamente o salmista nos indica que essa fala pertence ao próprio Senhor: Seu prazer nos santos que vivem na terra, a quem tem por notáveis, príncipes, tal como Ele é.
Esta linguagem: comunhão dos santos, é diferente de ajuntamento dos santos. Aponta antes a uma busca por companheirismo, vivência, algo que ultrapassa programas, eventos.
Na linguagem do salmista a idéia contida é que a abrangência do seu deleite se concentra na comunhão dos santos, naqueles que estão identificados com o seu Senhor. Tudo o mais fica de fora, pois ele disse: Todo o meu prazer.
Hoje, esta é uma experiência possível e presente?
Quem e onde estão os santos? A quem cabe hoje esta designação?
O termo alude aos que estão separados para, tanto quanto separado” está o Senhor.
Mas o texto do salmista, como dissemos, os identifica como aqueles que Lhe são idênticos, ou, da mesma natureza dEle, dignos do mesmo título.
Acredito que a resposta a esta questão levantada: possibilidade e realidade presente, só se encontra quando o significado do termo ultrapassa o teórico para o essencial: separados e identificados com Ele.
Não há como vivenciar prazer na companhia de crentes, apenas por conta dessa designação confessional: evangélicos, da mesma comunidade, etc. Pelo contrário, prazer só com os santos, onde se harmonizam tanto a fala quanto as paixões na vida, porque as lentes que lêem a existência têm o mesmo grau e eixo.
Também vale lembrar, e transcrevo aqui, uma velha poesia que motivado por esta lembrança nostálgica, escreví já nos anos 1980:

Eu devo Te olhar, 
E pela fé firmar
Em Ti, meu coração.
E que verei, Senhor?
Um Cristo afeito à dor;
Capaz de dar perdão.

Havia doze santos, e todos escolhidos, 
E dentre os doze, três, que não mais preferidos,
Contudo mais chegados...mais íntimos e prontos.
No entanto, um deles falta à Tua confiança,
E ainda assim o pões por sobre liderança,
Do Teu rebanho eleito em Teu fiel cuidado.
E mesmo um traidor, que entre os doze havia,
Fizeste um escolhido; fizeste um enviado,
Que tanto quanto os doze, a abençoar seguia
Cumprindo o Teu  chamado.

Sim, Cristo, amaste a Pedro; a Judas Tu amaste.
E se hoje mais caíssem, estarias Tu amando.
E nesse mesmo amor, que a mim Tu revelaste,
Preciso aprender a ir Te imitando.
Porque não faltam pedrosjudas, eu até...
Quem sabe, em vez ser do cerne de João,
Esteja eu a viver, qual Pedro irrizão,
Traindo como Judas, descrendo qual Tomé?
Ó, dá-me um perfil que exceda a tudo isto,
Que vá dos meros homens, a ser perfil de Cristo.
(Alho, Cleber- Quando Canta o Coração, p.49).
Com carinho,
Pr. Cleber Alho

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