Enquanto
eu escrevia a reflexão anterior, um irmão
amado, que a leu, lembrou-me um texto assinado por C.S.Lewis (Cristianismo Puro
e Simples) no qual o autor fala sobre a esperança cristã acerca do céu,
cujo extrato coloco aqui:
A
esperança é uma
das virtudes teológicas. Isso quer dizer que (ao contrário
do que o homem moderno pensa) o anseio contínuo
pelo mundo eterno não é uma
forma de escapismo ou de auto-ilusão, mas uma das coisas que se espera do
cristão. Não
significa que se deve deixar o mundo presente tal como está.
Se você estudar a história,
verá que os cristãos que mais trabalharam por este mundo
eram exatamente os que mais pensavam no outro mundo. Os apóstolos,
que desencadearam a conversão do Império
Romano, os grandes homens que erigiram a Idade Média,
os protestantes ingleses que aboliram o tráfico de escravos - todos deixaram sua
marca sobre a terra precisamente porque suas mentes estavam ocupadas com o Paraíso.
Foi quando os cristãos deixaram de pensar no outro mundo
que se tornaram tão incompetentes neste aqui. Se você
aspirar ao Céu, ganhará
a Terra, ' de lambuja'; se aspirar à
Terra, perderá ambos."
(...)
Não
devemos nos preocupar com os irônicos que tentam ridicularizar a
esperança cristã do
'Paraíso' dizendo que ' não
querem passar a eternidade tocando harpa'. A resposta que devemos dar a essas
pessoas é que, se elas não
entendem os livros que são escritos para adultos, não
devem palpitar sobre eles. Todas as imagens das Escrituras (as harpas, as
coroas, o ouro, etc) são, obviamente, uma tentativa simbólica
de expressar o inexprimível. Os instrumentos musicais são
mencionados porque, para muita gente (não todos), a música
é o objeto conhecido nesta vida que mais fortemente sugere o êxtase
e a infinitude. A coroa é mencionada para nos dar a entender
que todo aquele que estiver reunido com Deus na eternidade tem parte no Seu
esplendor, no Seu poder e na Sua alegria. O ouro é
citado para nos dar a idéia da eternidade do Paraíso
(o ouro não enferruja) e também
da sua preciosidade. As pessoas que entendem esses símbolos
literalmente poderiam também pensar que, quando Cristo nos
exortou a ser como pombas, quis dizer que deveríamos
botar ovos" , e assim o autor encerra seu tema.
A Revelação
bíblica de Deus sobre a eternidade nos apresenta o Eden. É
bom lembrar que o homem foi feito para habitar no Éden,
porque o Éden foi criado para o homem. Mas tendo tornado a si e a toda
raça humana indigna do Éden, foi dele expulso e este teve sua
porta fechada. Vem Jesus, na plenitude dos tempos então, nos
anunciando ser Ele o caminho e a porta que nos levam de volta ao Éden
perdido da comunhão com o Deus Eterno.
Dentro
da questão anteriormente feita: Por que devemos contemplar os céus?,
o autor do salmo proposto na primeira parte desta reflexão, o
salmo 8, nos aponta uma outra razão de substancial importância
para o ser humano. É quando ele, continuando seu
pensamento no verso 3: Quando contemplo Teus céus... pergunta
a Deus: Que é o homem para que com ele te importes?
Ensina-nos
então, em primeira mão, que uma visão
macrocósmica da vida, ou transcendental, provoca um olhar, um
refletir sobre si mesmo, a autovisão que nunca deveria faltar a ninguém.
A Bíblia relata a experiência do profeta Isaías
a quem sobrevindo em êxtase uma visão de
uma cena celestial em que contemplou a glória de Deus e ouviu sons angelicais,
caiu em si, e viu-se sujo, impuro, diante de tamanho esplendor e santidade (Isaías
6). O salmista viveu algo próximo a isso. E sua experiência
serve para nos levar à conclusão de que uma visão
elevada até os céus de Deus, nos permite perceber nossa
pequenês, finitude, e ao mesmo tempo perceber que o Deus que fez um
céu tão magnífico e eterno, não
teria por que ocupar-Se com a insignificância humana. No entanto, é
com os homens, criados à Sua imagem e semelhança
que Se importa e Se ocupa. Sim, Jesus deixou bem claro que o alvo de Sua obra
vicária foi nos propiciar participação em
Sua glória eterna. De fato, Deus criou o homem para habitar no céu.
Depois,
depreendemos também que o salmista nos comunica que o
Deus que tudo fez com excelência, não reputa o homem por
insignificante. Volta Sua atenção
para ele. Longe de desprezá-lo, o Evangelho nos revela que Deus valoriza-o
a tal ponto que lhe deu Seu Filho Unigênito com o intuito único
de comprar para Si Mesmo esse ser que dEle se perdeu tornando-se em seu próprio
dono e senhor. E valoriza ao ponto de lhe propor a volta à
Sua Eterna comunhão.
Mas,
voltando ao ponto anterior, se existe uma necessidade premente de contemplarmos
os céus para alçarmos alturas mais nobres em nossos
sonhos e propósitos existenciais, também
é importante dar-nos conta de que contemplar os céus
nos faz cair na realidade de que nossa finitude e humanidade não
são nossas medidas. Sempre o infinito nos apontará
a eternidade de Deus como a eternidade aspirada, ainda que pareça
ao ser humano o efeito ilusório e psíquico de ser eterno em si mesmo até
que se depara com a morte inevitável. Sua aspiração, no
entanto, é eco de uma verdade espiritual: não
fomos feitos para a morte. Contemplar a infinitude divina tem de despertar em
pessoas sensatas, a profunda consciência de sua dependência
nAquele que fez tudo absolutamente imensurável.
As
dimensões siderais, presumidas e avaliadas, deveriam nos despertar
questões tais como: por que e para quê tudo isso?
Quem pode desfrutar tamanha grandeza?
É
tal o anseio pelo infinito no homem, que mobiliza as grandes potências
e os homens da ciência a vasculharem por sondas
espaciais e até aspirando lá
chegar, o infinito sideral. Essa sede denunciada em tais megas projetos, muito
mais prodigiosos que os túmulos faraônicos
ultramilenares, vai atravessar e crescer desmedidamente no passar das décadas
enquanto o homem povoar a terra. Ele busca, sem o saber, o Éden
perdido.
Há
uma espada que circunda o Éden de Deus. É sua
guardiã perene. Abusando dos símbolos, penso que o homem entra de
volta ao Éden quando ferido por essa espada, a Palavra de Deus que
encarnou como Jesus, o Cristo, a via única de acesso às regiões
celestiais.
Pr.
Cleber Alho.
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