quarta-feira, 10 de junho de 2015

QUANDO CONTEMPLO OS TEUS CÉUS - Continuação

Enquanto eu escrevia a reflexão anterior, um irmão amado, que a leu, lembrou-me um texto assinado por C.S.Lewis (Cristianismo Puro e Simples) no qual o autor fala sobre a esperança cristã acerca do céu, cujo extrato coloco aqui:

A esperança é uma das virtudes teológicas. Isso quer dizer que (ao contrário do que o homem moderno pensa) o anseio contínuo pelo mundo eterno não é uma forma de escapismo ou de auto-ilusão, mas uma das coisas que se espera do cristão. Não significa que se deve deixar o mundo presente tal como está. Se você estudar a história, verá que os cristãos que mais trabalharam por este mundo eram exatamente os que mais pensavam no outro mundo. Os apóstolos, que desencadearam a conversão do Império Romano, os grandes homens que erigiram a Idade Média, os protestantes ingleses que aboliram o tráfico de escravos - todos deixaram sua marca sobre a terra precisamente porque suas mentes estavam ocupadas com o Paraíso. Foi quando os cristãos deixaram de pensar no outro mundo que se tornaram tão incompetentes neste aqui. Se você aspirar ao Céu, ganhará a Terra,  ' de lambuja'; se aspirar à Terra, perderá ambos."
                                      (...)
Não devemos nos preocupar com os irônicos que tentam ridicularizar a esperança cristã do 'Paraíso' dizendo que ' não querem passar a eternidade tocando harpa'. A resposta que devemos dar a essas pessoas é que, se elas não entendem os livros que são escritos para adultos, não devem palpitar sobre eles. Todas as imagens das Escrituras (as harpas, as coroas, o ouro, etc) são, obviamente, uma tentativa simbólica de expressar o inexprimível. Os instrumentos musicais são mencionados porque, para muita gente (não todos), a música é o objeto conhecido nesta vida que mais fortemente sugere o êxtase e a infinitude. A coroa é mencionada para nos dar a entender que todo aquele que estiver reunido com Deus na eternidade tem parte no Seu esplendor, no Seu poder e na Sua alegria. O ouro é citado para nos dar a idéia da eternidade do Paraíso (o ouro não enferruja) e também da sua preciosidade. As pessoas que entendem esses símbolos literalmente poderiam também pensar que, quando Cristo nos exortou a ser como pombas, quis dizer que deveríamos botar ovos" , e assim o autor encerra seu tema.

A Revelação bíblica de Deus sobre a eternidade nos apresenta o Eden. É bom lembrar que o homem foi feito para habitar no Éden, porque o Éden foi criado para o homem. Mas tendo tornado a si e a toda raça humana indigna do Éden, foi dele expulso e este teve sua porta fechada. Vem Jesus, na plenitude dos tempos então, nos anunciando ser Ele o caminho e a porta que nos levam de volta ao Éden perdido da comunhão com o Deus Eterno.

Dentro da questão anteriormente feita: Por que devemos contemplar os céus?, o autor do salmo proposto na primeira parte desta reflexão, o salmo 8, nos aponta uma outra razão de substancial importância para o ser humano. É quando ele, continuando seu pensamento no verso 3: Quando contemplo Teus céus... pergunta a Deus: Que é o homem para que com ele te importes?

Ensina-nos então, em primeira mão, que uma visão macrocósmica da vida, ou transcendental, provoca um olhar, um refletir sobre si mesmo, a autovisão que nunca deveria faltar a ninguém. A Bíblia relata a experiência do profeta Isaías a quem sobrevindo em êxtase uma visão de uma cena celestial em que contemplou a glória de Deus e ouviu sons angelicais, caiu em si, e viu-se sujo, impuro, diante de tamanho esplendor e santidade (Isaías 6). O salmista viveu algo próximo a isso. E sua experiência serve para nos levar à conclusão de que uma visão elevada até os céus de Deus, nos permite perceber nossa pequenês, finitude, e ao mesmo tempo perceber que o Deus que fez um céu tão magnífico e eterno, não teria por que ocupar-Se com a insignificância humana. No entanto, é com os homens, criados à Sua imagem e semelhança que Se importa e Se ocupa. Sim, Jesus deixou bem claro que o alvo de Sua obra vicária foi nos propiciar participação em Sua glória eterna. De fato, Deus criou o homem para habitar no céu.

Depois, depreendemos também que o salmista nos comunica que o Deus que tudo fez com excelência, não reputa o homem por insignificante.  Volta Sua atenção para ele. Longe de desprezá-lo, o Evangelho nos revela que Deus valoriza-o a tal ponto que lhe deu Seu Filho Unigênito com o intuito único de comprar para Si Mesmo esse ser que dEle se perdeu tornando-se em seu próprio dono e senhor. E valoriza ao ponto de lhe propor a volta à Sua Eterna comunhão.

Mas, voltando ao ponto anterior, se existe uma necessidade premente de contemplarmos os céus para alçarmos alturas mais nobres em nossos sonhos e propósitos existenciais, também é importante dar-nos conta de que contemplar os céus nos faz cair na realidade de que nossa finitude e humanidade não são nossas medidas. Sempre o infinito nos apontará a eternidade de Deus como a eternidade aspirada, ainda que pareça ao ser humano o efeito ilusório e psíquico de ser eterno em si mesmo até que se depara com a morte inevitável. Sua aspiração, no entanto, é eco de uma verdade espiritual: não fomos feitos para a morte. Contemplar a infinitude divina tem de despertar em pessoas sensatas, a profunda consciência de sua dependência nAquele que fez tudo absolutamente imensurável.

As dimensões siderais, presumidas e avaliadas, deveriam nos despertar questões tais como: por que e para quê  tudo isso?  Quem pode desfrutar tamanha grandeza?

É tal o anseio pelo infinito no homem, que mobiliza as grandes potências e os homens da ciência a vasculharem por sondas espaciais e até aspirando lá chegar, o infinito sideral. Essa sede denunciada em tais megas projetos, muito mais prodigiosos que os túmulos faraônicos ultramilenares, vai atravessar e crescer desmedidamente no passar das décadas enquanto o homem povoar a terra. Ele busca, sem o saber, o Éden perdido.

Há uma espada que circunda o Éden de Deus. É sua guardiã perene. Abusando dos símbolos, penso que o homem entra de volta ao Éden quando ferido por essa espada, a Palavra de Deus que encarnou como Jesus, o Cristo, a via única de acesso às regiões celestiais.


Pr. Cleber Alho.       

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