Em 1964
a escritora-poetisa Cecília Meireles lançou
seu livro de crônicas cujo título
era homônimo de um dos seus textos, onde ela redefinia o mundo
segundo sua fértil e lírica imaginação. Ao
dar ao livro o sugestivo título, " Escolha o Seu
Sonho", a autora apelou para o que há de mais profundo e constante no âmago
do ser humano, crente ou não: a possibilidade ou o desejo de
poder escolher o seu próprio sonho. A existência
humana, tanto na história coletiva quanto na pessoal, tem
provado que esse tipo de poder é utopia no sentido de possibilidade de construir a própria
história como a plena realização de um sonho perfeito. A despeito de
comprovada utopia, o ser humano não se cansa nem desiste de tentar e
investir, reforçado também por argumentos psicológicos
estimulantes que pretendem provar que sonhar é compromisso certo de realização,
típico do slogan: " querer é poder". Mas isso não
passa de magia pretensiosa.
E dentro
desse filão correm os desejos vertidos em sonhos, ditando o místico,
pontuando orações, sortilégios e
coisas afins. Na ciranda financeira valem as apostas grandes e pequenas em
busca do pote de ouro das loterias, no sonho febril do enriquecimento fácil,
mormente em tempos de crise financeira pressagiando de novo falência
para a economia do país como agora.
É
fato que sonhar é uma forma de manifestar o desejo, e
conforme preconiza a psicanálise, até o desejo inconsciente quando fala do
sonho próprio do adormecer. Mas grande parte do desejo consciente
dita sonhos elaborados no terreno da percepção fantasiosa.
Todavia,
célere corre a Palavra de Deus para nos advertir que há
de fato uma forma de sonhar e realizar, não mágica, mas cunhada pela lei da
sementeira quando diz: " O que o homem semear, isso também
ceifará" (Gálatas 6:7). Esta inquebrantável
lei, antes de ser transcendental é existencial. E estabelece que há
vias para nossas escolhas de sonhos e formas de sonhar. Daí
o magno conselho do profeta Oséias (10:12): " Semeiem a retidão
para si, colham o fruto da lealdade, e façam sulcos no seu solo não
arado..." O mesmo profeta adverte que a má semente também
produz frutos maus: " Mas vocês plantaram a impiedade, colheram o
mal e comeram o fruto do engano..." (10:13). Outro tanto o apóstolo
Paulo exorta: " Quem semeia para a sua carne, da carne colherá
destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito
colherá a vida eterna" (Gálatas 6:8). E a vida prova que assim
acontece em todas as dimensões da existência
do ser humano.
No mesmo
tema insiste o apóstolo aos gentios em mostrar que o
semear envolve até mesmo práticas
materiais e possibilita o realizar colheitas na proporção
correspondente: " Lembrem-se: aquele que semeia pouco, também
colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também
colherá fartamente... Aquele que supre a semente ao que semeia e o
pão ao que come, também lhes suprirá e
multiplicará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça"
(II Coríntios 10: 6 e 10). Infelizmente por aqui entram os apóstolos
da torpe ganância para induzir incautos a semear
dinheiro em suas contas bancárias, instigados por cobiças
devoradoras nuns e noutros. Porém o erro de alguns não
anula a verdade piedosa quando atrela esta liturgia da fé à
Promessa afeita à fidelidade de Deus. Tanto que Jesus
afirmou quanto à prática do dar e receber: "Dêem,
e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será
dada a vocês. Pois a medida que usarem também será
usada para medir vocês" (Lucas 6:38).
Esta lei
espiritual do semear, que Paulo introduziu com a advertência:
"De Deus não se zomba", estabelece, em
outras palavras, a efetividade de um sonhar santo, sadio e possível.
À luz do que lemos nos textos acima, fica entendido a meu
ver, que a escolha do nosso sonho é possível a partir da escolha da semente da
qual pretendemos fazê-lo nascer, crescer e frutificar.
Escolha
o seu sonho a partir da semente, e então, "lança-o
sobre as águas, e depois de muitos dias você
tornará a encontrá-lo" ( Eclesiastes 11:1).
Nenhum comentário:
Postar um comentário